No Hospital da Lapa, no Porto, está a ser usado um tratamento inovador com comprimidos capaz de resgatar, com sucesso, pessoas dependentes de álcool e outras substâncias.
No Hospital da Lapa, no Porto, está a ser usado um tratamento inovador com comprimidos capaz de resgatar, com sucesso, pessoas dependentes de álcool e outras substâncias. Por enquanto, em Portugal, o tratamento ainda só foi testado na área do alcoolismo. Os responsáveis falam em 50 por cento de casos de cura.
por Margarida Cruz
“O Baclofeno suprime o 'craving' (sintomas de privação)”, explica ao Boas Notícias Ramiro Araújo, médico-psiquiatra responsável daquele hospital privado. “No que respeita ao álcool, chega a ter sucesso em cerca de 90% das pessoas, mas as posologias diárias para que o fenómeno se verifique são muito variáveis de indivíduo para indivíduo”, acrescenta.
No entanto, apesar de eficaz e inovador, este é um tratamento pouco convencional e bastante diferente dos habitualmente utilizados em caso de alcoolismo. Segundo Ramiro Araújo, com o baclofeno, o paciente não corre riscos de sofrer de síndrome de privação, uma vez que não deixa, subitamente, de beber.
“O tratamento é feito em casa, na comodidade do lar de cada um, ao mesmo tempo que mantém as suas atividades de lazer e até a sua ocupação profissional (salvo alguns curtos períodos de 'baixa' e abstenção de conduzir veículos ou máquinas)”, esclarece. Ao início são prescritas pequenas doses diárias deste medicamento, que vão sendo gradualmente aumentadas.
Indiferença ao álcool
Os efeitos são notórios na redução das quantidades de álcool ingeridas por dia, fruto do desaparecimento progressivo do 'craving'. No fim, o resultado é a indiferença e abstinência do vício. Ou seja, à medida que o paciente toma os comprimidos, o mesmo deixa de sentir vontade de beber.
Em média, são precisos entre 45 a 60 dias para conseguir controlar o 'craving' (o que acontece em 90% dos casos) e um período idêntico para o paciente se tornar indiferente (que acontece em 50% dos pacientes).
Posteriormente segue-se o tempo de manutenção até à estabilização do paciente, que pode durar entre 3 a 6 anos, onde é mantida uma pequena dosagem (30 a 50 miligramas) de Baclofeno por forma a que se sintam “compensados de pequenos problemas, como a ansiedade e a timidez, que muitas vezes são a causa de condutas iniciais de bebida”.
Um método pioneiro em Portugal, com origem francesa
O método usado pelo especialista português foi desenvolvido pelo professor Olivier Ameisen, de origem francesa, que testou os efeitos do fármaco, usado como relaxante muscular em várias doenças neuromusculares, em si mesmo.
No Hospital da Lapa, nos últimos seis meses, Ramiro Araújo tem vindo a prescrever dosagens de Baclofeno para o tratamento de “perturbações mentais e do comportamento, decorrentes do consumo de álcool e da dependência de cocaína” e até no controlo da bulimia compulsiva.
“É o mais barato de todos os tratamentos, pois não exige qualquer tipo de internamento”, garante o responsável. “Quanto ao custo do Baclofeno, o mesmo é variável, conforme a fase do tratamento”. No caso dos comprimidos de 10 miligramas, o preço é de 7 cêntimos cada. Nos de 25 miligramas, são 13 cêntimos por comprimido.
“Uma dose de manutenção média de 75 mgs, por dia, custará ao paciente 39 cêntimos. Numa fase de tentativa de cura da dependência psicológica, com uma posologia de 200 mgs id. custará cerca de 1 euro por dia”, conta o especialista, que acrescenta que o medicamento está sujeito a receita médica e é comparticipado.