A população de linces ibéricos poderá triplicar e chegar aos 900 exemplares no início do próximo século se a sua conservação passar a integrar os modelos de alteração climática, concluiu um novo estudo internacional com participação portuguesa.
A população de linces ibéricos, que atualmente apenas sobrevivem em liberdade e no seu habitat natural no sudoeste da Península Ibérica, poderá triplicar e chegar aos 900 exemplares no início do próximo século se a sua conservação passar a integrar os modelos de alteração climática. A conclusão é de um novo estudo internacional que contou com participação portuguesa.
A investigação, publicada este mês na revista científica Nature Climate Change, envolveu especialistas do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (entre os quais o português Miguel Bastos Araújo), em Espanha, e da Universidade de Adelaide, na Austrália.
De acordo com a equipa, estima-se que, no presente, existam em liberdade entre 250 e 300 linces ibéricos, distribuídos em duas populações diferentes localizadas no sudoeste da Península Ibérica.
Segundo este estudo, aumentar esta população até aos 900 exemplares (ou seja, triplicar o número de animais da espécie e criar entre 25 a 31 populações distintas) poderá ser possível se forem elaborados planos para a sua reintrodução na Natureza que considerem os fatores relacionados com as alterações climáticas.
Mais de 40 áreas com condições para albergar espécie
Os especialistas preveem, através de modelos, que exista, no futuro, um aumento da temperatura, o que poderá tornar hostis as áreas onde hoje se concentram os esforços para reintroduzir o lince ibérico.
Apresentando alternativas que permitam contrariar esta realidade, a nova investigação detetou mais de 40 áreas climaticamente suscetíveis de albegar o lince ibérico até meados do século XXI.
“Os planos de reintrodução deveriam centrar-se em zonas historicamente associadas a esta espécie e que apresentem no futuro as condições indicadas”, explicou à Lusa o investigador português Miguel Bastos Araújo, que, além de trabalhar com o Museu Nacional de Ciências Naturais do CSIC, é também professor e investigador convidado da Universidade de Évora.
Além do clima, também a abundância de coelhos bravos (a única presa desta espécie) e as alterações do solo foram fatores tidos em conta pelos investigadores ao longo dos cinco anos de estudo, constituindo-se como elementos que devem ser considerados aquando da libertação dos animais em meio natural.
Recorde-se que, em Junho, Miguel Bastos Araújo foi distinguido com o prémio Ebbe Nielsen, concedido anualmente pela Global Biodiversity Information Facility (GBIF), uma organização internacional que trabalha para disponibilizar online dados científicos sobre a biodiversidade.
À data, o investigador disse à Universidade de Évora que o prémio, no valor de 30 mil euros, seria aplicado no desenvolvimento de uma plataforma experimental de investigação para analisar e validar previsões do impacto das alterações climáticas sobre a biodiversidade em diferentes locais.
Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo publicado na Nature Climate Change (em inglês).