O poeta maranhense Ferreira Gullar recebeu esta quinta-feira à noite o Prémio Camões 2010, na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, dizendo-se "emocionado", avança a agência Lusa.
[Foto © Bravo]O poeta maranhense Ferreira Gullar recebeu esta quinta-feira à noite o Prémio Camões 2010, na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Na cerimónia, o poeta disse estar “emocionado” e elogiou os outros nomes que foram nomeados para o prémio, avança a agência Lusa.
O prémio, no valor de 100 mil euros, é concedido anualmente pela Fundação Biblioteca Nacional, instituição vinculada ao Ministério da Cultura do Brasil, e pelo Instituto Camões, de Portugal.
Gullar foi escolhido pelo conjunto da sua obra, em reunião realizada pelo júri do prémio, em maio deste ano, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
“Primeiro, eu estou muito contente de ganhar esse prémio”, declarou Gullar, que disse estar “bastante emocionado”, após receber o prémio das mãos dos representantes dos governos brasileiro e português.
“Eu ter sido citado entre os que foram premiados, eu estou numa companhia de gente fina”, brincou.
“Todo prémio tem um certo grau da casualidade, tem que ter sorte também”, afirmou o poeta ao dizer-se homenageado “com a significação que tem na cultura da comunidade de língua portuguesa”.
“A gente escreve para o outro, o sentido da vida é o outro. É isso que justifica e que dá sentido ao que nós fazemos. Valeu a pena”, declarou.
O poeta brasileiro completou 80 anos no último dia 10, celebrando o aniversário com o Prémio Camões e também com o lançamento do livro de poemas “Em Alguma Parte Alguma”, pela Editora José Olympio.
A agenda do poeta está cheia de compromissos para este mês no Brasil. Gullar já lançou a sua obra no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Só no evento de lançamento do livro no Rio, no dia 1 de setembro, mais de 200 pessoas foram pedir-lhe autógrafos.
Numa entrevista concedida à agência Lusa, Ferreira Gullar afirmou não sentir o peso da idade e disse que não fica “a pensar em prémios”.
“Não participo de política literária, de disputa. Para mim, é muito especial ganhar um prémio como o Camões”, admitiu, na ocasião.
Poeta experimental
A sua trajetória poética foi de bastante transformação. Nascido em São Luís do Maranhão, no Nordeste brasileiro, em 1930, José Ribamar Ferreira, conhecido como Ferreira Gullar, estreou-se na poesia quando tinha apenas com 14 anos.
Em 1954, publicou um dos livros mais discutidos da sua geração, “A Luta Corporal”, que termina com a “implosão da linguagem”. A partir daí, começou a fazer poemas concretos.
Em 1976, publicou “Poema Sujo”, considerado um marco na literatura brasileira, traduzido para diversas línguas.
Após o fim da ditadura no Brasil, Gullar retornou de seu exílio e sua poesia também tomou o rumo dos questionamentos políticos e sociais.
Gullar esteve à frente de seu tempo e na vanguarda das experimentações gráficas e de linguagem.
Em 2002 teve a indicação para o Prémio Nobel de Literatura, por intelectuais do Brasil, Portugal e Estados Unidos, mas foi este ano que o autor foi galardoado com um dos mais prestigiados prémios da literatura de língua portuguesa, o Prémio Camões.