Já se sentiu como um mar revolto, cheio de ondas, que ora vão para cima, ora vão para baixo? Alegria, tristeza, medo, contentamento, frustração, serenidade... Temos todas essas emoções e muitas mas lidamos mais facilmente com aquelas que nos dão praz
“Não podes parar as ondas,
mas podes aprender a surfar.”
Jon Kabat-Zinn
Já se sentiu como um mar revolto, cheio de ondas, que ora vão para cima, ora vão para baixo? Ondas de emoções que às vezes são suaves e que outras vezes são avassaladoras? Alegria, tristeza, medo, contentamento, frustração, serenidade, êxtase, impaciência… Temos todas essas emoções e muitas mais e ainda bem! Mas na realidade lidamos mais facilmente com aquelas que nos dão prazer e as que nos trazem desconforto e sofrimento gostaríamos de reduzir ou apagar.
por Sara Simões Gonçalves, Psicóloga Clínica
No entanto, todas são necessárias, pois as emoções e os sentimentos têm importantes funções na nossa vida. Significam e mostram que nos importamos, que somos afetados pelas coisas que nos rodeiam e que não somos meros robôs inanimados ou estátuas de pedra. É através das nossas emoções que podemos perceber o que queremos e precisamos, também mostrando aos outros essas necessidades.
Quando temos dificuldade em lidar com emoções, adotamos atitudes de negação e de fuga, mas também podemos ficar no extremo oposto de quem se identifica demasiado com as emoções. E, como diz o povo: “no meio é que está a virtude”, a forma mais adaptativa e saudável de lidar e gerir as emoções é saber “surfar” as emoções. Ou seja, ser um observador e testemunha destas mesmas emoções, que reconhece a sua existência e presença, não as julga e tem sempre em mente que, mesmo sendo dolorosas, elas não vão durar para sempre.
È claro que nem sempre é fácil ter esta atitude. Por exemplo, quando dormimos pouco ou estamos constipados ou quando, a nível laboral, temos prazos a cumprir, ou, a nível pessoal, termos conflitos numa relação significativa, estas situações levam-nos a uma menor tolerância. Mas, ainda assim, é possível.
O desafio é conseguirmos manter alguma tranquilidade e calma quando existe muita turbulência emocional. Podemos recorrer aos outros (rede social), que inclui a família, os amigos e também o psicólogo, para obtermos alguma perspectiva e conforto emocional. Todavia, em última instância, é connosco que podemos contar e o desafio está em confiarmos em nós próprios e na nossa capacidade de nos auto-confortarmos.
Técnicas para surfar “ondas” emocionais
O que sugiro neste texto é exatamente algumas formas de lidar com essa turbulência emocional e aprender assim a “surfar” essas ondas. E não esquecer que é através da prática que nos tornamos bons “surfistas”!
1. Pergunte a si próprio: “Neste momento, o que faria alguém, que se respeita e que gosta de si próprio?” Esta pergunta relembra-o de se tratar a si próprio com carinho e respeito, tal como você o faria com um amigo querido. E também permite que crie alguma distância emocional do que se está a passar, de forma a que não fique demasiado envolvido nos seus sentimentos.
2. Veja a sua experiência como um detective ou um repórter. Seja curioso em relação ao que se está a passar, em vez de resistir. Aperceba-se dos factos. Escreva-os. Analise-os nos vários níveis:
– CORPO – Onde sente no corpo essa dor emocional? Tem dor de cabeça? Dói-lhe as costas? Músculos doridos? Tonturas? Batimento cardíaco acelerado? O que se passa no seu corpo?
– PENSAMENTOS – O que está dizer a si próprio? Qual é o seu diálogo interior? Que palavras está a usar sobre si, sobre o passado, sobre o presente, sobre o futuro? Está a ser mau consigo, crítico, julgador, a prever o pior?
– COMPORTAMENTOS – Que acção está prestes a tomar? Que comportamento ou forma de reagir costuma ter? Quer fugir? Esconder-se? Ser agressivo? Gritar? Chorar? Apenas repare, sem julgamento.
3. Dê a si próprio um abraço. Saiba aceitar-se, reconfortar-se, como o faria com o seu melhor amigo. Às vezes só precisamos de um pequeno carinho, um toque, uma festinha, um posar a mão no coração…
4. Diga a si próprio: “Eu estou aqui para mim”, “Posso sempre contar comigo”. Saiba que você é a sua melhor companhia e que vai estar sempre a seu lado. Reconheça e confie na sua sabedoria e nas suas capacidades para superar o sofrimento que está a passar.
5. O que me estão a dizer as minhas emoções? O que me estão a tentar ensinar? As emoções, como já referi anteriormente, são formas de comunicação (com nós próprios ou com os outros) e manifestam-se pois existem necessidades que precisa de atender. O que está a precisar? O que lhe falta? O que precisa de mudar para se sentir satisfeito? Perceba quais as suas necessidades por detrás das suas emoções.
6. O que posso eu fazer por mim, neste momento? Que gesto carinhoso ou que ato bondoso e construtivo pode ter por si neste momento de turbulência? Por vezes, podemos oferecer a nós próprios momentos de beleza e contemplação (ver o mar ou um pôr-do-sol) ou talvez alguma distração (por exemplo, ir às compras). Mas também poderá ser um telefonema a alguém que nos pode ajudar.
Lembre-se que pode aprender a tolerar e ultrapassar a ansiedade, a perda, o medo, a desilusão ou a frustração. Apreciar-se a si próprio e a sua coragem para “estar” com a emoção que surge, sem piorar essa turbulência. Sem julgamentos.
Não se envolver demasiado nessas ondas, correndo o risco de se “afogar” nessas emoções. Saber “surfar” nessas ondas e saber que ao fazê-lo, está, com certeza, a desenvolver a uma relação consigo próprio de maior respeito, carinho e aceitação – que o pode salvar do '”afogamento” emocional.