[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
Quem o acompanhava nem considerou a possibilidade: que não tinham preparação, que não sabiam como, que nunca o tinham feito, que não era possível numa região tão árida que até o deserto invejava. Quando ele começou a tentar, havia rios que já tinham desistido, engolidos por secas constantes e pelo abandono das tradições milenares. E Rajendra Singh ressuscitou-os.
Das litanias persistentes que me rodeiam ultimamente, há uma que tem o condão de me exasperar: “não sei, não consigo, isso é difícil”. Escuto-a por palavras, ou nos ombros descaídos de quem desistiu de tentar; vejo-a na descrença de um olhar que já não sonha; sinto-a no menosprezo das sugestões que são dadas e na pacatez de quem opta pelo mero calcorrear de terrenos conhecidos; reconheço-a em clientes, em colegas e nas mais variadas pessoas com quem me cruzo no dia-a-dia, e mesmo nas que desconheço e de quem leio publicações.
E porque é que me exaspera? Bem, pelo desperdício das possibilidades humanas. Porque tentar apenas exige predisposição e esforço – nada mais! E não tentar é garantia segura de não se conseguir, pelo que a racionalidade de tentarmos obter algo, com total independência da nossa experiência prévia, auto-percepção de capacidades ou expectativas em relação a um possível sucesso, se encontra sempre justificada no jogo das probabilidades.
Todos temos em nós recursos e potencialidades que apenas requerem ser usados – não os teremos iguais, naturalmente, porque somos únicos, cada qual à sua maneira. Mas, ainda assim, cada um de nós transporta dentro de si o potencial de realização de algo ou vários algos, mais ou menos grandiosos, mais ou menos inovadores, e que, quando libertado e vivido, tem o bónus acrescido de um bem-estar especial que apenas se consegue quando se está a viver em pleno. Basta teimosia e trabalho duro. E acreditar que lá chegaremos.
Deite fora os seus “não sei, não consigo, isso é difícil”. Recicle-os, talvez, que sempre é moda e útil. Rajendra Singh faz nascer rios. Porque não hei-de eu também fazer aquilo em que acredito e que entendo por bem fazer? Porque não há-de o meu caro leitor fazer nascer os seus próprios rios?
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]