[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
Ora veja lá bem se não reconhece um padrão de raciocínio seu, num qualquer tema da sua vida: quer mudar qualquer coisa – emagrecer ou ficar em forma, gerir mais eficazmente o seu tempo, desenvolver melhores relações com os outros, andar mais calmo. Começa a pensar numa forma de o fazer e dá consigo perante um curso de ação que, só de pensar nele, fica cansado! Não é hoje, é amanhã, no princípio do mês é que calhava bem, já agora deixo passar a Páscoa, e a mudança pretendida vai ficando a ganhar mofo.
Porquê? Bem, a minha versão pessoal é de que a vida é simples e nós é que a complicamos. Ou dito de uma forma mais a gosto de quem prefere a seriedade, o nosso cérebro incorre num erro de grandeza – o que eu pretendo mudar é importante para mim, logo, grande; então, salta a ideia de que o conserto deve ter idêntica dimensão. Não temos consciência de que estamos a equacionar o tema desta forma, mas, regra geral, acabamos a achar que teremos um investimento elevado, em esforço ou tempo, para conseguir obter resultados positivos.
E como a vida é feita de contrários, que lá se vão equilibrando entre si, conseguimos pensar, igualmente, o oposto na forma de uma convicção firme num passe de mágica simplista (e não necessariamente simples) que fará com que o ontem se transfigure num hoje profundamente diferente. Qual é a dica, a sugestão, a pílula, o conselho, o truque que me vai fazer acordar amanhã de bem com a vida, com sucesso, feliz, com a certeza de que a má sorte se mantém ao largo, distante e minha inimiga? E investimos esforço na procura duma solução, ignorando aspetos práticos ao nosso dispor, apenas porque parecem sensaborões e de pequena sofisticação.
Muitas vezes, dou comigo a ter de negociar com quem me procura um meio-termo que tem tanto de ciência como de bom senso: mudar realidades é possível, e é feito de pequenos atos simples, ainda que exijam uma certa dose de persistência e congruência.
Pense num qualquer aspeto em si que queira mudar e assegure-se de que é uma mudança realista; imagine como seria a sua vida depois de ter produzido essa mudança; agora pense para trás: para chegar a essa versão modificada o que é que teve de fazer. Seja tão específico quanto possível. Agora selecione uma dessas coisas que imagina que teve de fazer para produzir a mudança pretendida e introduza-a na sua vida quotidiana durante, pelo menos, umas 3 semanas. Depois avalie novamente.
Um exemplo? Está a pedir-me um exemplo? Então vamos lá: aquilo que o aflige é nunca ter tempo suficiente para coisas que entende importantes (seja a família, pensar ou descansar). Como é que seria a sua vida se tivesse o tempo que estima necessário? Vá, realismo…
Esqueça a volta ao mundo durante seis meses, sim? Ficamo-nos só com o sábado à noite para sair com os amigos e o domingo para ir ao cinema e passear, está bem? O que é que tinha de fazer para assegurar que esse tempo lhe sobrava? Delegar mais tarefas, deixar cair algumas das coisas que faz e que nem daria pela sua falta, levantar mais cedo, consultar os emails menos 50 vezes por dia, ver menos programas televisivos que não lhe interessam mas que sintoniza por simples inércia, ir para o emprego de comboio em vez de carro em filas infernais? Coisas simples, muito simples, mas práticas, está bem?
Escolha uma ou duas das ações que pensou. “Então e agora?”… Agora, faça apenas isso que pensou, mas faça-o consistentemente. Dê umas poucas de semanas e avalie o que mudou. E volte à casa de partida.
Para obter resultados importantes e aumentar drasticamente a qualidade de vida não é preciso fazer paraquedismo, mas ficar à espera do génio da lâmpada também não vai resultar. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra…
Boas mudanças!
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]