Há um estudo recente que valida o bom senso de olharmos para “o outro lado” quando vamos ser picados por uma agulha, para uma injeção ou uma análise clínica. De facto, as pessoas que estão a olhar para a agulha a picá-las reportam maior intensidade de dor do que as que não se importam nada que as achem menos corajosas porque olham para outro lado qualquer ou fecham os olhos.
[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
Além disso, neste estudo confirmou-se que a experiência prévia, quando negativa – uma injeção que nos doeu significativamente no passado – bem como a expectativa que temos quanto à dor que vamos sentir (“Isto costuma doer”) aumenta a perceção da dor.
E a que propósito lhe trago estas conclusões? Bem, para além de úteis para médicos e enfermeiros, se forem amplificadas para outros contextos, nomeadamente na área da saúde mental, assumindo-se que dor é dor, seja de corpo ou de alma, serão importantes para todos nós.
Em primeiro lugar, gostaria que retivesse esta ideia: se é algo que provoca dor, então focar a sua atenção nisso irá, provavelmente, aumentar a experiência dolorosa. E, não… Não estou a fazer a apologia da estratégia da avestruz.
Apenas que muitos de nós caímos frequentemente na ratoeira da sobre-importância a questões que nos incomodam ou incomodaram, repetindo-os em conversas com um sem-número de amigos, repisando-os nos nossos pensamentos, ruminando incessantemente a propósito de amargos de boca, irritações, erros nossos, insucessos que nos entristeceram. Este tipo de holofote sobre questões a propósito das quais pouco ou nada há a fazer, tem por única consequência o prolongar do mal-estar e mesmo o seu aumento. Por isso, é melhor ir enterrando assuntos. Paz à sua alma!
Em segundo lugar, é boa ideia investirmos na procura de informação realista sobre as situações que antevemos como desagradáveis, não vá dar-se o caso de o cenário que criámos nas nossas fantasias ser muito pior do que a realidade (e o ser humano tem uma certa queda para a tragédia, quando se trata de imaginar o futuro). Aliás, a procura de informação objetiva e, mesmo, a criação de discursos internos realistas e fundamentados é um excelente treino para fomentar a saúde mental.
Já quanto às experiências passadas, que nos vão sensibilizando ao longo da vida, convém mantermos a perspetiva de que só porque no passado aconteceu algo de uma determinada forma, nada nos garante que essa forma se vá repetir – o contexto muda, nós mudamos… E nessa mudança reside toda a diferença, pelo que nos convém manter o espírito aberto à novidade que cada momento nos traz.
Referência do estudo: Marion Höfle, Michael Hauck, Andreas K. Engel, Daniel Senkowski. “Viewing a needle pricking a hand that you perceive as yours enhances unpleasantness of pain” in 'Pain' 2012
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]