Por si, não sei, mas pessoalmente acho cansativo isto de ter de conviver comigo mesma 24 horas por dia, sem folga nem descanso. Conhecemo-nos bem, todas as nossas pequenas manias, achaques e manhas, numa previsibilidade enfadonha, com a qual acordamos diariamente e da qual não temos grande esperança de escapar. Por isso, este mês, proponho-lhe umas férias diferentes: vá habitar outro alguém!
[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
O nosso modo de aprendizagem mais importante, com que vimos equipados de série, é a aprendizagem por modelagem: observamos, absorvemos, ensaiamos, repetimos, integramos no nosso reportório comportamental… aprendemos. Em bebés e crianças pequenas, a modelagem de pais, irmãos, modelos graúdos e miúdos, ocupa uma fatia significativa da nossa estratégia de aprendizagem sobre como funcionar no mundo; progressivamente, com o desenvolvimento cognitivo e emocional, vamo-nos intelectualizando, criando capacidades de abstração e experimentação própria que remetem para um segundo plano esta forma simples e holística de aprendermos.
No entanto, é uma excelente ideia, de tempos a tempos, voltarmos a ligar este modo de aprendizagem, porque permite um andamento rápido, bem como uma alternativa simpática a uma mudança de aspetos que são difíceis de explicar detalhadamente por palavras e, portanto, difíceis de operacionalizar para uma aprendizagem efetiva. E como é que isto se faz? Bem, como numa brincadeira de faz-de-conta…
Selecione uma pessoa que faça bem algo, ou tenha uma característica de personalidade que gostaria de ver em si. Por exemplo, alguém que é uma mãe/um pai mais descontraído ou bem-disposto, uma pessoa que tem uma comunicação afirmativa perante o chefe ou os colegas, uma pessoa que tem uma postura profissional que impõe respeito só com um olhar, uma pessoa despreocupada de uma forma geral, alguém que tenha uma relação interpessoal extrovertida e fácil, … Os exemplos são infinitos.
Depois, nas situações relevantes, tire uns segundos mentais para imaginar que é essa pessoa. Entre-lhe na pele. Respire-a. Imagine-se ela (ele). E, nos momentos seguintes, faça de conta que a habita, que deixou de ser quem é e passou a ser essa pessoa, para aquilo que quer e na situação que quer. É muito simples! E, no entanto, tem um impacto de mudança muito significativo e pode, mesmo, ser divertido. Darmos uma voltinha na vida, como se fôssemos outros, liberta-nos da prisão de velhos hábitos e permite-nos integrar novas formas de sermos, sentirmos, pensarmos e relacionarmo-nos, de uma maneira fácil e enriquecedora.
Ora experimente – tire umas férias de si e permita-se crescer na aprendizagem rápida de outras vidas e formas de ser e estar. Boas férias!
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]