Imaginemos uma sala confortável com mesas, cadeiras, um sofá muito agradável, um bom tapete, chão de madeira. Tudo acolhedor e convidativo.
por António Norton, Psicólogo
Imaginemos uma sala confortável com mesas, cadeiras, um sofá muito agradável, um bom tapete, chão de madeira. Tudo acolhedor e convidativo.
Nesta sala há uma porta que dá para outra divisão. Na sala decorre uma festa com pessoas, expectativas, interesses, emoções, calor, palavras, gestos, olhares, atitudes.
Para entrar na sala é preciso que esta porta, que falei à pouco, se abra. Quem decide quem entra somos nós. Vamos imaginar que eu ou o leitor é que controla quem entra na sala. Lá fora os convidados são emoções:
Alegria e seus derivados como euforia, boa-disposição, espontaneidade, leveza, descontracção e relaxamento.
Medo e seus derivados como ansiedade, terror e pânico. Zanga e seus derivados como raiva, cólera e ódio. Tristeza e seus derivados como melancolia e nostalgia.
Ora bem, nós é que decidimos quem entra na festa e a primeira resposta que surge é abrimos a porta à alegria e o resto das emoções e seus derivados não são bem-vindos. Não vêm fazer nada nesta festa!! Podem ir “pregar para outra freguesia”.
Estas emoções tais como tristeza, zanga, medo são muito insistentes e começam a forçar a porta para entrar, afinal de contas, sentem que a sua presença é importante na festa, mas nós não as queremos e pressionamos a porta com força para não entrarem.
Mas as emoções não se vão de modo algum embora, pelo que passamos o tempo todo da festa a tentar fechar a porta e a impedir a entrada destas emoções. Estamos hipervigilantes e a controlar todos os nossos pensamentos para que estas emoções não entrem na festa e não estraguem tudo.
Resultado?
Perdemos a festa, o convívio, a música, a comida, a espontaneidade, a descoberta do outro, a descontracção, a irreverência. Curiosamente, quanto mais tentamos bloquear a entrada destes intrusos indesejáveis mais zangados, irritados, assustados, ansiosos e até tristes ficamos…
Esta imagem é o que se passa no hiper-controlo que governa e representa uma pessoa com ansiedade social.
E como podemos sair desta armadilha? Quanto mais bloqueamos a entrada destas emoções mais ansiosos ficamos…
Gostaria de fazer uma pergunta: O que é que acontece se abrirmos a porta às emoções? Se deixarmos entrar o medo, a zanga e a tristeza vamos arruinar a festa? Ou será que não? Se aceitamos que ter medo é natural. Se aceitamos que estar zangados é legítimo.
Se aceitamos que a tristeza faz parte de cada um de nós o que surge? Deixamos de ficar preocupados e hipervigilantes. Deixamos de ficar a noite toda agarrados à porta para que não se abra e deixe entrar emoções supostamente indesejáveis.
Se trazemos a zanga podemos participar em conversas cujo teor transmita revolta, podemos intervir se existir algum desacato durante a festa.
Se deixamos que a tristeza entre podemos confortar alguma pessoa que se sinta triste na festa, porque ao aceitarmos a nossa tristeza, aceitamos a do outro.
Se deixamos o medo entrar podemos escolher as pessoas com quem queremos conviver, em vez de agir impulsivamente e mergulhar em qualquer contexto social.
Ter emoções é natural, é normal e faz parte de cada um de nós.
Todas as emoções têm a sua valia, a sua importância, a sua utilidade.
Se bloqueamos as emoções o que vai acontecer é como que uma duplicação dessa emoção.
Se eu tenho medo do medo então o meu medo duplica.
Se eu tenho tristeza da tristeza vou ficar duplamente triste.
Se eu fico zangado por ter zanga em mim posso ficar ainda mais carregado de zanga.
Duplicamos a emoção ao não a aceitar e aí sim a emoção poderá adquirir um carácter disfuncional e, se quisermos negativo.
Que vos parece?
Aceitar é a chave?
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