Ciência

Observatório: A ‘arte’ de ver formas no universo

Quem nunca olhou para o céu num dia com nuvens e, de repente, viu uma nuvem que se parece com um animal ou um objeto?
Versão para impressão
Quem nunca olhou para o céu num dia com nuvens e, de repente, viu uma nuvem que se parece com um animal ou um objeto? Tanto em crianças como em adultos, esta é uma forma de passar tempo com amigos, num jogo divertido e relaxante que com certeza todos experienciámos um dia. Quando observamos imagens do Universo, também é comum vermos padrões bastante familiares, mas neste caso “as peças do jogo” estão, geralmente, a vários anos-luz de distância do nosso planeta.
 
por João Retrê – Astrofísico
 
Frequentemente ficamos surpresos quando olhamos para o céu e vemos nas nuvens formas que se assemelham a objetos, animais ou até mesmo faces humanas. A identificação destes padrões não é única em nuvens, sendo habitual observarmos formas familiares em árvores, pedras, fumo ou mesmo edifícios. 
 
A visualização destes padrões é um exemplo de um fenómeno designado por ‘pareidolia', no qual percecionamos algo com significado, a partir de um estímulo abstrato, em geral uma imagem ou som. Embora a maioria das pessoas nunca tenha ouvido falar de pareidolia, muitas já a experienciaram de uma maneira ou outra.

Podemos ver, abaixo e na imagem principal do artigo, dois exemplos deste fenómeno: numa nuvem e numa árvore. Qual a forma que vê em cada uma dessas imagens? Se viu, por exemplo, uma “árvore dançarina” e uma “nuvem coelho”, então acabou de experienciar a pareidolia!

 
Existem diversas teorias que visam explicar este fenómeno sendo que uma defende que este é uma condição psicológica evolucionária. Por exemplo, o facto de a pareidolia se manifestar muito frequentemente através da identificação de feições humanas em padrões abstratos, indica que o cérebro humano poderá estar formatado para identificar outros humanos. Para os nossos antepassados esta característica seria muito importante por uma questão de proteção e sobrevivência. 
 
Uma forma de pareidolia muito comum ocorre quando olhamos para imagens do Universo, a partir das quais conseguimos criar e associar formas e padrões a imagens do nosso quotidiano. Os objetos astronómicos em que este fenómeno ocorre mais frequentemente são as nebulosas (grandes nuvens de gás e poeira), conjuntos de galáxias ou a superfície de planetas como Marte. Alguns objetos astronómicos são geralmente apelidados pelos astrónomos de acordo com a pareidolia. Aqui ficam alguns exemplos:
 
1- Fada Sininho
Este sistema, a que os astrónomos chamaram “O Pássaro” é um caso raro de uma fusão tripla de galáxias. Parecendo na realidade uma fada Sininho cósmica, é composto por duas galáxias espirais de elevada massa e por uma terceira galáxia irregular.
 

Créditos: ESO
 
2- Elefante em Marte
Esta é uma imagem da superfície de Marte onde se podem ver as margens de um fluxo de lava jovem, na região de Elysium Planitia. Estas margens formam aquilo que aparenta ser o desenho de um elefante.
 

Créditos: NASA/JPL/University of Arizona
 
3- Uma Lagarta Cósmica
A imagem mostra uma protoestrela num estágio precoce da sua evolução, em que se encontra a coletar material do involucro de gás e poeira que a rodeia. A radiação ultravioleta intensa, proveniente de estrelas jovens na vizinhança, esculpe este envelope numa forma que se assemelha a uma lagarta com 1 ano-luz de comprimento.
 
Hubble Sees a Cosmic Caterpillar
Créditos: NASA, ESA, Hubble Heritage Team (STScI/AURA), e IPHAS
 
4- A “Face” de Marte
Em Julho de 1976, a sonda Viking 1 obteve uma imagem da superfície de Marte em que é visível uma estrutura com semelhanças a uma face humana (canto inferior direito da imagem). Imagens com maior resolução, obtidas em 2001, revelaram que esta estrutura é na realidade uma simples colina na superfície do planeta (centro da imagem).   
 
Créditos: NASA/JPL
 
5- Uma Formiga no Espaço
Na imagem podemos observar o remanescente de uma estrela do tipo do nosso Sol, nos estágios finais da sua vida. Esta estrutura em específico assemelha-se à cabeça e tórax de uma formiga a caminhar pelo espaço, a 8000 anos-luz de distância. 
 

Créditos: NASA, ESA and The Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
 
6- Golfinho Celeste
Este é mais um grupo de galáxias em interação em que as forças gravitacionais distorcem as suas formas. A pequena galáxia espiral, observada de frente no centro da imagem, não pertence a este grupo localizado a cerca de 190 milhões de anos-luz, surgindo de um alinhamento fortuito, tal como visto a partir da Terra. As forças gravitacionais fazem com que as duas galáxias na parte inferior da imagem formem uma figura que se assemelha a um golfinho.

Créditos: NASA, J. English (U. Manitoba), S. Hunsberger, S. Zonak, J. Charlton, S. Gallagher (PSU), e L. Frattare (STScI)
 
7- Cara Sorridente em Marte
A cratera de Galle, na superfície de Marte, tem cerca de 215 quilómetros de diâmetro. Quando olhamos para esta imagem, é difícil não imaginarmos que a cratera e as estruturas no seu interior, formam um sorriso colossal para quem a observa.

Créditos: NASA/JPL/Malin Space Science Systems
 
8- Nebulosa Cabeça do Cavalo
Esta nebulosa é sem dúvida uma das formas de pareidolia mais famosas. Localizada a cerca de 1500 anos-luz, na constelação de Orionte. Esta nebulosa recebe o seu nome devido à estrutura parecida com a cabeça de um cavalo-marinho, e encontra-se localizada a cerca de 1500 anos-luz, na constelação de Orionte. 
 

Créditos: NASA, ESA, e The Hubble Heritage Team (STScI/AURA)
 
9- A “Mão de Deus”
Nesta imagem, é possível distinguir aquilo que parece ser uma mão (a azul) localizada a cerca de 17 mil anos-luz de distância. Esta estrutura é na realidade uma nuvem de material ejetado de uma estrela de grande massa que explodiu. A nuvem é esculpida por ação de um fluxo de partículas originado pelo núcleo remanescente da estrela – um pulsar.
 

Créditos: NASA/CXC/SAO/P.Slane, et al.
 
O fenómeno da paredoila faz com que possamos divertir-nos um pouco, de forma instintiva, com o mundo à nossa volta. Com esta característica humana, podemos observar imagens do Universo por diversas perspetivas e apreciá-las e, no processo, aprender mais acerca dos fenómenos por detrás de cada estrutura que dá asas à nossa imaginação.

____________________________________________________

O Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa tem promovido ao longo dos anos, no Observatório Astronómico de Lisboa, atividades ligadas à astronomia e astrofísica como cursos, visitas, palestras e observações astronómicas para o público em geral e formação especializada para a comunidade académica.

Para mais informações, consulte:
www.caaul.oal.ul.pt

Comentários

comentários

PUB

Live Facebook

Correio do Leitor

Mais recentes

Passatempos

Subscreva a nossa Newsletter!

Receba notícias atualizadas no seu email!
* obrigatório

Pub

Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Saiba mais aqui.

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close