Fato é que a EaD no Brasil tem caráter altamente inclusivo: ela atinge alunos que habitam os mais distantes rincões do país, assim como dos grandes centros; atinge uma proporção maior de mulheres do que de homens; é frequentada por pessoas de mais idade, mas também pelos mais jovens; atende pessoas com todos os tipos de necessidades especiais, nível de renda e momento profissional.
É exatamente essa quantidade enorme de alunos de origens diversas que impõe ao mercado de EaD a necessidade de inovar. É necessário atender alunos em localidades remotas, com baixa conectividade e com pouca experiência acadêmica. É necessário inovar nas práticas pedagógicas para motivar essa enorme diversidade de alunos. É necessário oferecer cursos pelos quais os alunos possam pagar. Em resumo, é necessário inovar tecnológica, administrativa e pedagogicamente.
Os materiais de cursos a distância têm de ser facilmente assimiláveis pelos alunos, o que se reflete em conteúdos compostos por uma grande variedade de mídias: tende-se a contar com vídeos, textos digitais, áudios, animações, interação com professores e até materiais impressos. A multiplicidade de formatos para apresentar o conteúdo é uma estratégia eficaz para atender públicos distintos mesmo que os materiais tenham que ser produzidos em larga escala.
A EaD precisa de promover a divisão do trabalho docente. Há profissionais que criam conteúdos, outros especializados em design instrucional, outros que gravam videoaulas ou realizam teleconferências, e multidões de tutores para acompanhar o progresso dos alunos e motivá-los a persistir, além de docentes que fazem atendimento presencial em polos. Esta divisão do trabalho torna o processo mais eficaz e aproveita melhor os talentos individuais sem sobrecarregar indivíduos com a execução de todas as etapas de uma docência a distância de qualidade.
A administração tem de ser centralizada e de baixo custo para não inviabilizar os cursos, o que tende a favorecer a consolidação do mercado entre instituições que oferecem educação a distância. Por fim, a tecnologia adotada pela EaD precisa ser robusta, de baixo custo e acessível.
A EaD no Brasil avançou muito, desde os cursos transmitidos por rádio no início do século. A área desenvolveu estratégias próprias, sem similar no mundo. Este desenvolvimento inegável não significa que a área não continue enfrentando desafios. A EaD no Brasil apresenta taxas de evasão maiores que a média, por exemplo, e ainda precisa desenvolver estratégias para oferecer cursos que vão além das Ciências Humanas e Sociais, onde se concentra a maioria das ofertas.
Apesar de contar com tantos estímulos à inovação, o contexto da EaD também conta com elementos que inibem este desenvolvimento. Na sua vertente formal, a modalidade está sujeita à forte regulamentação pelos órgãos governamentais, que impõem inúmeras restrições para a abertura de cursos de nível superior a distância, nem sempre de acordo com as melhores práticas ou imbuídos de uma visão de futuro para a Educação. Além desse contexto regulamentado, que inibe a inovação, existe uma tendência cultural das instituições que ofertam EaD em tentar produzir todos os componentes dos cursos internamente: conteúdos, softwares, metodologias de ensino e até estratégias administrativas.
É neste contexto que a ABED trabalha ativamente para ajudar as instituições a ultrapassarem as barreiras que inibem a inovação: a associação promove troca de experiências em âmbito nacional e internacional, divulga de melhores práticas e orienta o governo quanto a regulamentações mais consonantes com as demandas do mercado e às possibilidades da Educação a Distância em fazer a diferença no padrão educacional do país.
Para atingir este objetivo, a ABED promove um Congresso Internacional (CIEAD) visitado por mais de 1500 pessoas anualmente. Ali as instituições brasileiras compartilham suas experiências, e discute-se o estado da arte da EAD no mundo. Os expositores apresentam suas contribuições na Expo-EAD realizada em paralelo ao congresso. Já no SENEAD, também organizado pela ABED, são debatidos os problemas nacionais com relação a qualidade, ética, legislação, qualificação e aspectos trabalhistas.
A ABED também faz a curadoria do estado da arte em EAD. Realiza o CensoEAD.BR anualmente para compreender o tamanho e a forma de realizar esta modalidade de ensino no país. Publica a Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta a Distância (RBAAD). O seu portal (http://www.abed.org.br/) tem por objetivo manter todos os interessados na modalidade atualizados em termos de eventos, cursos oferecidos, trabalhos científicos e notícias. Esse esforço de promover troca de informações fundamentadas em diferentes níveis, desde 1995, certamente faz diferença na aceleração da inovação neste mercado tão complexo.
* Artigo escrito em Português do Brasil
O conteúdo O papel da Associação Brasileira de Educação a Distância – ABED e o panorama da educação a distância no Brasil aparece primeiro em i9 magazine.