Antes que os fármacos atualmente disponíveis comecem a atenuar os sintomas de uma depressão é necessário esperar semanas ou até meses. Uma cura menos demorada da doença pode agora estar mais próxima.
Antes que os fármacos atualmente disponíveis comecem a atenuar os sintomas de uma depressão é necessário esperar semanas ou até meses. Uma cura menos demorada da doença pode agora estar mais próxima graças a uma descoberta de investigadores norte-americanos que tem potencial para acelerar os efeitos dos antidepressivos e trazer melhorias em apenas poucos dias.
Um grupo de especialistas da Universidade de Chicago, nos EUA, descobriu que bloquear, de forma seletiva, um subtipo de um recetor de serotonina – neurotransmissor que atua no cérebro e regula elementos como o sono, o humor, o apetite ou o ritmo cardíaco – é capaz de acelerar os efeitos dos antidepressivos em ratinhos, o que poderá trazer uma nova classe de fármacos para tratar a depressão.
“Um dos principais problemas associados ao tratamento da depressão é, neste momento, a demora que existe até que os efeitos terapêuticos comecem a fazer-se sentir. Portanto, tem havido uma grande necessidade de descobrir medicamentos de ação rápida”, explica Stephanie Dulawa, coordenadora do estudo publicado esta terça-feira na revista científica Molecular Psychiatry, em comunicado.
Atualmente, apenas dois fármacos – a cetamina e a escopolamina – têm ação rápida ao nível dos sintomas depressivos, mas, devido aos graves efeitos secundários, nenhum deles é adequado para uso humano, revelam os cientistas.
Segundo Dulawa, esta realidade faz com que as terapias levadas a cabo, normalmente prolongadas, possam ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, que, muitas vezes, passam meses e meses a fazer trocas de medicação sem conseguir progressos.
Com o objetivo de procurar uma nova classe de fármacos, Dulawa e os colegas testaram percursos biológicos capazes de gerar efeitos antidepressivos, analisando vários subtipos de recetores de serotonina e acabando por encontrar um subtipo particularmente importante: o recetor de serotonina 2C.
Através de testes feitos em laboratório, os investigadores conseguiram bloquear seletivamente este recetor em ratos, observando uma redução significativa dos comportamentos depressivos em apenas cinco dias (em comparação com as duas semanas necessárias para que tal se verificasse com a medicação convencional).
Alternativa mais segura aos fármacos conhecidos
“Observámos efeitos terapêuticos de ação rápida em várias tarefas comportamentais depois da administração de compostos que bloquearam os recetores de serotonina 2C”, realça Mark Opal, estudante da Universidade de Chicago e principal autor do estudo. “Só começámos a analisar as melhorias ao fim de cinco dias, mas é possível que elas tenham mesmo começado a registar-se mais cedo”, acrescenta.
Por norma, os recetores de serotonina 2C inibem a libertação de dopamina, outro neurotransmissor frequentemente associado com o humor. Quando este recetor é bloqueado, acreditam os especialistas, há maior libertação de dopamina em regiões do cérebro como o córtex pré-frontal.
Este é o primeiro mecanismo biológico capaz de aliviar os sintomas da depressão de forma rápida identificado desde a descoberta da cetamina e da escopolamina, representando, potencialmente, uma alternativa muito mais segura.
Segundo a equipa, uma das principais vantagens desta descoberta é, portanto, o facto de este recetor de serotonina 2C se constituir como um alvo “muito mais inócuo” para combate à doença do que outros previamente identificados.
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