Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, identificaram uma nova população de linfócitos que lhes está a permitir o desenvolvimento da primeira terapia celular imunossupressora, restringida a um local específico do organismo
Investigadores do Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa, identificaram uma nova população de linfócitos que lhes está a permitir o desenvolvimento da primeira terapia celular imunossupressora, restringida a um local específico do organismo, para combater a rejeição de órgãos após transplante, sobretudo no caso do fígado.Os investigadores não só identificaram uma nova população de linfócitos reguladores – células do sistema imunitário que controlam a atividade de defesa do organismo contra as infeções -, como descobriram uma estratégia para estimular a sua formação, informa o IMM em comunicado oficial.
A nova terapia desenvolvida a partir daqui poderá permitir minimizar os efeitos crónicos da imunossupressão após um transplante de órgãos, nomeadamente a exposição acrescida a infeções e cancro, que colocam, muitas vezes, em risco a vida dos transplantados.
Os linfócitos reguladores são células do sistema imunitário que controlam a atividade dos linfócitos T, responsáveis pela defesa do organismo contra agentes infecciosos. Quando a atividade desses linfócitos não é corretamente controlada, surgem doenças auto-imunes e doenças alérgicas, como a asma.
O que os investigadores portugueses descobriram agora foi um tipo diferente de linfócitos reguladores a que chamaram NKTreg e que se acumulam especificamente no fígado após injeção intra-venosa. Além disso, estas células reguladoras podem ser obtidas a partir do sangue humano, abrindo perspetivas para uma nova terapia celular.
O processo de formação das NKTreg a partir de células percursoras humanas e a sua aplicação terapêutica foram já patenteados pela equipa, que conta com a participação de David Cristina, do Instituto Gulbenkian de Ciência.
“O que descobrimos foi que estas células têm a capacidade de regular os linfócitos T, e de forma localizada no fígado”, prossegue a investigadora Marta Monteiro, primeira autora do estudo.
“Estes resultados, obtidos no laboratório, têm enorme potencial terapêutico”, sublinha Luís Graça, líder da equipa, acrescentando que a equipa está “agora a trabalhar para desenvolver uma terapia celular” que “poderá diminuir os problemas associados aos transplantes: evitar a rejeição, reduzindo ao mesmo tempo os graves efeitos adversos das atuais terapêuticas imunossupressoras”.
Os resultados serão publicados no prestigiado “Journal of Immunology”, no próximo dia 15 de agosto, e deram origem a uma empresa spin-off, a Acellera Therapeutics, em processo de criação.