Normalmente as células têm capacidade de responder às situações de
privação de oxigénio (hipoxia), gerando novos vasos sanguíneos, mas no
caso da diabetes isso não acontece, surgindo complicações patológicas
como o infarto do miocárdio e a retinopatia diabética, a principal causa
de perda de visão.
A equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da UC e do Instituto Biomédico de Investigação, da Luz e Imagem (IBILI), liderada por Paulo Pereira, identificou um novo mecanismo que pode contribuir para a perda de resposta celular à hipoxia em situações de hiperglicemia como as que se observam na diabetes e que provoca a morte das células.
“É um novo mecanismo molecular, uma nova proteína, que contribui para degradar o fator HIF-1, o sensor de oxigénio, e identificámos todos os componentes moleculares que estão envolvidos nessa degradação”, explicou à agência Lusa Paulo Pereira.
Em resultado desta investigação será possível desenvolver terapias celulares que protejam da degradação esse sensor de oxigénio e no futuro desenvolver até terapias genéticas.
Esperança para travar o cancro
A manipulação do factor HIF-1, o sensor de oxigénio das células, para travar o cancro, é outra das linhas recentes de investigação desta equipa do Centro de Oftalmologia e Ciências da Visão da Faculdade de Medicina, que há quatro anos desenvolve este trabalho e que a semana passada o deu a conhecer à comunidade científica internacional através da revista “PlosOne”.
Paulo Pereira diz que poderá ter um impacto significativo no desenvolvimento dos tumores sólidos, porque “o crescimento do cancro depende largamente de uma rede vascular adequada”.
“Este mecanismo, que identificámos, pode também ser manipulado de maneira contrária ao que propomos na diabetes, que é no sentido de promover a degradação deste fator de resposta à hipoxia e assim impedir que os tumores cresçam, privando-os de oxigénio e privando-os dos meios que normalmente precisariam para crescer”, explica.
“Ainda é difícil antecipar o impacto de algumas destas descobertas. Acho que isto vai abrir possibilidades de investigação em numerosas áreas, na diabetes, no cancro, e talvez noutras que nesta fase ainda não conseguimos identificar”, conclui Paulo Pereira.
[Notícia sugerida pela utilizadora Raquel Baêta]