Verão é sinónimo de férias, de descanso, de dias de lazer. E ainda que se mudem as rotinas, não se devem descurar os cuidados no que à saúde oral diz respeito. É que, explica João Carlos Ramos, médico dentista da Associação Best Quality Dental Centers (BQDC), “a alteração sazonal de hábitos alimentares ou lúdicos pode iniciar ou agravar alguns sinais e sintomas de determinadas patologias”. Se ainda vai de férias, leve consigo alguns conselhos, para que os momentos de lazer não se transformem num pesadelo. E já agora, “não dê férias à sua saúde oral”.
Tudo começa com os hábitos alimentares. “O maior consumo de refrigerantes ácidos açucarados, de gelados, de saladas temperadas com vinagre ou limão, de mais frutas e sumos naturais, muitos deles acídicos, de bebidas isotónicas energéticas, muitas vezes associadas à prática desportiva, ou até mesmo de determinados cocktails em momentos sociais, pode ser lesivo e criar condições para o aparecimento ou agravamento de problemas dentários”, refere o especialista.
Um destes problemas é a “erosão (corrosão) dentária, desgaste provocado por causas químicas internas e/ou externas, que é um dos problemas dentários mais comuns e muitas vezes subdiagnosticado”, com qualquer coisa como “quase 30% da população adulta europeia a sofrer de desgaste dentário (esta prevalência tem vindo a aumentar e pode até assumir valores mais significativos em determinados escalões etários)”.
Explica o médico dentista do BQDC que “a ingestão de alimentos e bebidas acídicas provocam uma desmineralização dos tecidos duros dos dentes (nomeadamente do esmalte, mas também do cemento e dentina, quando expostos), com diminuição da sua resistência e dureza, criando condições para a sua perda progressiva”.
Para evitar que isto aconteça, não tem de abdicar do divertimento em férias, mas tentar reforçar os cuidados, nomeadamente a 3 níveis: “reduzir a exposição aos fatores etiológicos”; “aumentar a resistência dos tecidos dentários à desmineralização; e reduzir o desgaste mecânico provocado pela escovagem, mastigação ou mesmo hábitos parafuncionais como ‘apertar os dentes’ ou roer as unhas, por ex.”.
O que significa que, se tem alguns dos sintomas ou doença acima descritos, “deve evitar este tipo de alimentos e bebidas, ou pelo menos minimizar o seu consumo e os seus efeitos”, explica João Ramos, que para isso deixa outros conselhos. “Por exemplo, quando consome bebidas acídicas, como um simples sumo de laranja ou limonada, deve fazê-lo com recurso a uma ‘palhinha’, o que só por si reduz o contacto e o efeito na superfície dentária. Quando se consomem bebidas acídicas durante o exercício físico, e não só, deve terminar com um golo ou dois de água simples, que deve manter na boca durante alguns segundos.”
A estes cuidados juntam-se outros como: “depois da ingestão de bebidas ou alimentos muito acídicos, não se deve escovar os dentes de imediato, pois aumenta-se o risco de desgastar os tecidos dentários por abrasão mecânica da escova e da pasta. Deve-se esperar que a saliva neutralize e remineralize, se possível, os tecidos desmineralizados superficialmente (pelo menos 30 minutos). Por outro lado, pacientes de elevado risco de erosão e desgaste dentário podem usar escovas e pastas menos abrasivas e com maior concentração de flúor”.
Para quem tem por hábito trocar a comida caseira pela ida ao restaurante, este não deve ser um motivo para deixar a higiene oral em casa. “Pelo contrário”, reforça o médico dentista. “Podem socorrer-se de kits de viagem mais pequenos, podem também mastigar uma pastilha elástica neutra e sem açúcar (ou até mesmo contendo fosfato de cálcio) durante alguns minutos, que promove alguma limpeza mecânica e estimula a secreção salivar e/ou até efetuar bochechos com elixires apropriados (fluoretados). Importa referir que nenhum destes procedimentos complementares substitui a correta escovagem e passagem do fio dentário.”
Fundamental é ainda, antes da ida para férias, agendar uma consulta com o dentista, para “todos os pacientes e mormente para aqueles que já possuem os problemas diagnosticados, que possuem tratamentos de reabilitação oral em curso ou que possuem fatores de risco adicionais como o bruxismo, doenças periodontais, diminuição da secreção salivar (sensação de boca seca), consumo elevado de açúcares, refluxo gastro-esofágico, bulimia, hábitos parafuncionais, alcoólicos, ou mesmo consumo de determinados medicamentos como aspirina e anti-histamínicos”.