Há mais de 10 anos que Inês Seabra faz visitas como voluntária na Prisão feminina de Tires, através da associação “Dar a Mão”. Com o desejo de estimular as competências e os talentos das reclusas, Inês decidiu, há cerca de dois anos, começar a costurar em conjunto com as mulheres do estabelecimento.
“Começámos por costurar materiais como cortinados para as celas, para o espaços sociais, para as salas da prisão. Depois fizemos umas carteiras com os retalhos e uns crochés que ficaram muito engraçadas e tiveram muita saída”, explica Inês ao Boas Notícias.
Daí surgiu a ideia de ir mais longe e criar uma marca própria, a Reklusa. Alguns meses depois a equipa alargou-se com a entrada de Mafalda Lima Raposo, gestora, e Helena Matos Água, marketeer.
“Com a Helena veio a entrada do IADE que foi muito importante. Fomos lá bater a porta, fizemos uma parceria pró bono e tivemos 60 alunos a desenhar carteiras para a nossa marca”, conta Inês.
Desses 60 projetos, a Reklusa escolheu 15 modelos dos quais já desenvolveram dois: Magnólia e Chocolate. Para a coleção do próximo inverno vão produzir dois novos modelos, e progressivamente irão concretizar todos as 15 propostas desenhadas pelos estudantes.
Da criatividade à reinserção social
No atelier, em Lisboa, as três amigas desenham e cortam os tecidos, que depois levam para Tires. É na oficina de costura do estabelecimento prisional que as reclusas costuram todo o material até chegarem ao produto final.
O grupo de trabalho da prisão é composto por cerca de 10 reclusas de várias idades, incluindo “uma reclusa com 76 anos”, explica Helena. As três amigas deslocam-se à oficina de Tires pelo menos uma vez por semana. E o empenho das reclusas não podia ser melhor, assegura Mafalda: “muitas vezes dão o seu contributo na parte criativa e superam alguns entraves que surgem porque já têm bons conhecimentos de costura”.
Aliando o negócio à vertente social, as três sócias pretendem também aumentar a auto-estima das reclusas e a sua independência financeira. “O nosso projeto também serve para as reclusas ganharem dinheiro. Elas recebem uma percentagem por cada unidade que fazem. A prisão fica com parte do ordenado mas quando saem levam o dinheiro para começarem uma vida nova”, explica Mafalda.
A Reklusa aposta ainda no reforço de competências profissionais. Nesse sentido as reclusas do grupo de trabalho estão agora a receber formação da parte de uma modelista profissional. E dentro de algum tempo, as três sócias esperam estender o projeto à reinserção. “Queremos montar um novo atelier onde possamos receber as reclusas que saírem para que tenham o seu posto de trabalho”, diz Malfalda.
Malas e outros projetos a caminho
Neste momento, a marca Reklusa tem cinco modelos de malas à venda, todas elas exclusivas já que os tecidos e os detalhes variam em cada peça. As malas Limão, Bola Reklusa (modelo reversível), e Pocket (uma carteira de média dimensão que pode ser usada como mala), foram desenhadas pelas três sócias. O modelo Magnólia (feito de burel, 100 por cento lã de ovelha) foi desenhado pela aluna do IADE Inês Correia e o modelo Chocolate pela
aluna Inês Barata.
Embora adquiram alguns dos tecidos e materiais, as malas Reklusa são muitas vezes elaboradas a partir de matéria prima doada por empresas, como foi o caso da Pedroso e Osório e da corticeira Amorim, que ofereceu restos de cortiça para incorporar nalguns modelos.
Os preços dos produtos variam entre os 35 e os 85 euros euros e as vendas são feitas por vendedoras comissionistas. No entanto, também é possível fazer o pedido através do blog da Reklusa e receber por correio os produtos adquiridos, se a residência for fora de Lisboa. Grande parte das vendas reverte para as reclusas e para a associação Dar a Mão, que presta apoio às reclusas e às suas famílias.
O próximo passo é constituir uma associação sem fins lucrativos que terá como objectivo promover o trabalho das reclusas e a sua reinserção social. Com mais trabalho pela frente, as sócias do Reklusa deixam um apelo: “Apelamos à boa vontade de empresários que tenham stock em excesso ou sobras de produtos como botões, fechos, forros, e mesmo máquinas, que nos doem esses produtos contribuindo para o nosso projeto”.