Sociedade

Moda: Projeto “Reklusa” aposta nas mulheres de Tires

Tecidos, três amigas e um grupo de reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires. São estes os componentes da marca Reklusa, que produz malas exclusivas com a colaboração das mulheres de Tires. Em Dezembro, o projeto ganhou um novo fôlego com a part
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Tecidos, três amigas e um grupo de reclusas do Estabelecimento Prisional de Tires. São estes os componentes do projeto Reklusa, que produz malas exclusivas com a colaboração das mulheres de Tires. Em Dezembro, o projeto ganhou um novo fôlego com a participação de alunos do IADE, que desenharam os últimos modelos Reklusa.

Há mais de 10 anos que Inês Seabra faz visitas como voluntária na Prisão feminina de Tires, através da associação “Dar a Mão”. Com o desejo de estimular as competências e os talentos das reclusas, Inês decidiu, há cerca de dois anos, começar a costurar em conjunto com as mulheres do estabelecimento.

“Começámos por costurar materiais como cortinados para as celas, para o espaços sociais, para as salas da prisão. Depois fizemos umas carteiras com os retalhos e uns crochés que ficaram muito engraçadas e tiveram muita saída”, explica Inês ao Boas Notícias.

Daí surgiu a ideia de ir mais longe e criar uma marca própria, a Reklusa. Alguns meses depois a equipa alargou-se com a entrada de Mafalda Lima Raposo, gestora, e Helena Matos Água, marketeer.

“Com a Helena veio a entrada do IADE que foi muito importante. Fomos lá bater a porta, fizemos uma parceria pró bono e tivemos 60 alunos a desenhar carteiras para a nossa marca”, conta Inês.
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Desses 60 projetos, a Reklusa escolheu 15 modelos dos quais já desenvolveram dois: Magnólia e Chocolate. Para a coleção do próximo inverno vão produzir dois novos modelos, e progressivamente irão concretizar todos as 15 propostas desenhadas pelos estudantes.

Da criatividade à reinserção social

No atelier, em Lisboa, as três amigas desenham e cortam os tecidos, que depois levam para Tires. É na oficina de costura do estabelecimento prisional que as reclusas costuram todo o material até chegarem ao produto final.

O grupo de trabalho da prisão é composto por cerca de 10 reclusas de várias idades, incluindo “uma reclusa com 76 anos”, explica Helena. As três amigas deslocam-se à oficina de Tires pelo menos uma vez por semana. E o empenho das reclusas não podia ser melhor, assegura Mafalda: “muitas vezes dão o seu contributo na parte criativa e superam alguns entraves que surgem porque já têm bons conhecimentos de costura”.

Aliando o negócio à vertente social, as três sócias pretendem também aumentar a auto-estima das reclusas e a sua independência financeira. “O nosso projeto também serve para as reclusas ganharem dinheiro. Elas recebem uma percentagem por cada unidade que fazem. A prisão fica com parte do ordenado mas quando saem levam o dinheiro para começarem uma vida nova”, explica Mafalda.

A Reklusa aposta ainda no reforço de competências profissionais. Nesse sentido as reclusas do grupo de trabalho estão agora a receber formação da parte de uma modelista profissional. E dentro de algum tempo, as três sócias esperam estender o projeto à reinserção. “Queremos montar um novo atelier onde possamos receber as reclusas que saírem para que tenham o seu posto de trabalho”, diz Malfalda.

Malas e outros projetos a caminho

Neste momento, a marca Reklusa tem cinco modelos de malas à venda, todas elas exclusivas já que os tecidos e os detalhes variam em cada peça. As malas Limão, Bola Reklusa (modelo reversível), e Pocket (uma carteira de média dimensão que pode ser usada como mala), foram desenhadas pelas três sócias. O modelo Magnólia (feito de burel, 100 por cento lã de ovelha) foi desenhado pela aluna do IADE Inês Correia e o modelo Chocolate pela
aluna Inês Barata.Image and video hosting by TinyPic

Embora adquiram alguns dos tecidos e materiais, as malas Reklusa são muitas vezes elaboradas a partir de matéria prima doada por empresas, como foi o caso da Pedroso e Osório e da corticeira Amorim, que ofereceu restos de cortiça para incorporar nalguns modelos.

Os preços dos produtos variam entre os 35 e os 85 euros euros e as vendas são feitas por vendedoras comissionistas. No entanto, também é possível fazer o pedido através do blog da Reklusa e receber por correio os produtos adquiridos, se a residência for fora de Lisboa. Grande parte das vendas reverte para as reclusas e para a associação Dar a Mão, que presta apoio às reclusas e às suas famílias.

O próximo passo é constituir uma associação sem fins lucrativos que terá como objectivo promover o trabalho das reclusas e a sua reinserção social. Com mais trabalho pela frente, as sócias do Reklusa deixam um apelo: “Apelamos à  boa vontade de empresários que tenham stock em excesso ou sobras de produtos como botões, fechos, forros, e mesmo máquinas, que nos doem esses produtos contribuindo para o nosso projeto”.

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