Os protestos no Brasil surpreenderam o mundo. Num país que registou, nos últimos 10 anos, alguns dos maiores progressos sociais e económicos a nível internacional, ninguém esperava que as pessoas saíssem à rua em protesto.
O último relatório da Organização Internacional de Trabalho, por exemplo, diz que, nos últimos anos, o Brasil “implementou ambiciosas políticas de trabalho e social, como o aumento do salário mínimo, extensão da proteção social (como o Bolsa Família) e ampliou os investimentos em saúde, educação e infraestrutura”.
O relatório sublinha ainda que o crescimento da classe média foi particularmente alto no Brasil, sobretudo comparando com outros países da amareican latina: entre 1999 e 2010 a classe média brasileira cresceu 16 pontos percentuais.
Mas, se a situação social e económica melhorou, o que levou milhares de brasileiros à rua, nos últimos dias? Um mini-documentário realizado pelo projeto “Imagina na Copa” (que até ao Mundial de Futebol pretende lançar um vídeo por dia com ideias para tornar o Brasil um pais melhor) explica as razões dos protestos.
Uma nova ordem social?
O vídeo inclui breves entrevistas a dezenas de manifestantes que reivindicam uma nova ordem, uma nova forma de governação, melhores condições de vida, melhores serviços de saúde e de transportes e, também, um combate real e eficaz à corrupção. Porque na verdade, apesar do crescimento económico, o Brasil continua a ocupar o 85º lugar do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.
Sobre as motivações dos manifestantes, Denis Russo Burgierman, diretor de redação das revistas Superinteressante e Vida Simples, que é entrevistado no documentário, diz que o Brasil está “a assistir ao colapso das regras que regem a sociedade” muito devido à força das redes sociais e das novas tecnologias.
“Era uma coisa que não parecia possível, parecia que o brasileiro estava satisfeito. Mas a partir do momento em que as pessoas veem a possibilidade, a mudança é muito rápida”, explica o jornalista, no documentário.
Dilma quer ouvir manifestantes
Depois de uma forte repressão das autoridades face aos primeiros protestos, que surgiram para contestar um anunciado aumento de 20 centavos nos autocarros públicos, a postura das entidades oficiais e do governo mudou. Poucos dias após as primeiras manifestações, foi anunciado o recuo no aumento do valor das tarifas.
Mas os protestos continuaram. Perante o descontentamento, na sexta feira-passada, a presidente Dilma Rousseff manifestou compreensão e anunciou que vai propor ao congresso um pacto entre o Governo Federal e os governos municipais para melhorar os serviços públicos.
Para a educação, Dilma quer transferir 100 por cento das receitas do petróleo. Na saúde vai propor a contratação de centenas de médicos, do estrangeiro, para os serviços públicos. E promete também o melhoramente dos transportes públicos.
Além destas propostas, a presidente inicia, esta segunda-feira, uma ronda de reuniões com representantes dos manifestantes (através do Movimento Passe Livre), além de governadores e prefeitos de capitais.
Será uma “mudança de época” e de futuro para o Brasil? O politólogo António Roberto Espinosa, que militou ao lado da presidente brasileira Dilma Rousseff contra a ditadura militar do país, disse, este domingo, que sim, afirmando que “as manifestações representam a necessidade de um novo pacto social” no país.