Negócios e Empreendorismo

Microcrédito: ajudar a construir um futuro

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Às vezes basta um "micro" incentivo para mudar de vida. Em Portugal, o Microcrédito já ajudou quase 1500 pessoas a montar o seu próprio negócio, com uma taxa de sucesso na ordem dos 80 por cento. O Boas Notícias falou com alguns dos micro empresários que deixam uma dica: além do investimento, o segredo para a realização pessoal e profissional é ser empreendedor e não cruzar os braços.

Por Ana Lúcia Silva

O microcrédito está implantado no nosso país desde 1998, através da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC). O objetivo deste sistema é fomentar a inserção social e a autonomia de pessoas com dificuldades financeiras ou em exclusão, promovendo a implementação de negócios propostos pelos candidatos.

A Associação acompanha todos os passos do processo: avalia o negócio que o micro empresário quer desenvolver, apoia a preparação das candidaturas ao financiamento bancário e responsabiliza-se pelo acompanhamento dos micro empresários durante o desenvolvimento dos seus negócios.

José Centeio, Secretário-Geral da ANDC, explicou ao Boas Notícias que existem muitos contactos que não chegam a ser candidaturas, uma vez que existem várias fases de triagem. “Apenas cerca de 20% dos contactos chegam à fase de análise (início da preparação do negócio), ou seja, candidatura propriamente dita”, explicou José Centeio ao Boas Notícias.

Financeiramente, a associação conta com o apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional e donativos. Atualmente têm protocolos de colaboração com vários bancos do mercado.

No primeiro ano o montante máximo atribuído era de 5.000 euros. Atualmente, o valor máximo atribuído é de 10.000 euros. No entanto, após um ano e analisadas as condições do negócio poderá ser concedido mais um empréstimo de 2.500 euros para a consolidação do negócio. A média de valores emprestados é de 8.000 euros.

Por fim, o responsável salienta que "o microcrédito é um empréstimo e não um apoio a fundo perdido", sendo que em caso de incumprimento serão ativados os mecanismos habituais. "Sabendo que o negócio, por mais pequeno que seja, é sempre um risco, o importante é criar condições que diminuam ou minimizem esse risco", conclui. 

Um negócio de aluguer de vestuário que já chega a Cannes

O Boas Notícias foi conhecer alguns dos casos de sucesso em Portugal. Olga Onyschuk, de origem ucraniana, vive no país há cerca de 12 anos. Abriu, com a irmã Irina Ilash, uma loja de aluguer de vestidos de noiva, smokings e fraques. Este não era um ramo desconhecido da empresária, uma vez que durante 10 anos também geriu uma loja do mesmo perfil, no seu país.

Em Portugal, ambas enfrentavam algumas dificuldades pois não tinham forma de adquirir nova mercadoria. Para manter o negócio, Olga e a irmã trabalharam vários anos, como empregadas de limpeza, durante uma parte do dia, revezando-se uma à outra na loja.

As dificuldades continuavam até que, numa agência bancária, foram aconselhadas a candidatar-se ao microcrédito. Olga Onyschuk revelou ao Boas Notícias que o processo de candidatura foi "muito fácil". Prepararam um "dossier com objetivos a atingir e demonstraram a viabilidade do negócio". O projeto foi aceite e foi-lhes concedido um crédito de €5000.

Atualmente o negócio está a ter muito sucesso e já contam com clientes fidelizados. Olga Onyschuk revelou-nos que "durante este mês as principais encomendas são para o Festival de Cannes".

Enquanto no verão os alugueres de vestuário para casamentos são a base do negócio, no inverno o aluguer concentra-se em roupa de cerimónia para festas. Durante todo o ano alugam vestidos e fraques para a valsa em Viena. Constante é também a requisição de roupa "para festas e cerimónias oficiais de embaixadas".

Fusão entre design e artesanato

João Bruno Videira, natural de Évora, criou a Água de Prata em 2006 com o apoio do microcrédito. O designer/artesão revelou-nos que foi por uma questão de necessidade que recorreu ao microcrédito, "uma vez que não tinha rendimento suficiente para recorrer a um empréstimo convencional".

Em outubro de 2006 apresentou o pedido à ANDC, recebeu de imediato um técnico que acompanhou todo o processo de candidatura. Em dezembro chegou a primeira tranche do empréstimo no valor de 8.000 euros.

A marca registada por si explora uma nova utilização da lã de Arraiolos, nomeadamente a sua aplicação em peças de mobiliário. O artesão concebe os objetos de raiz e recorre à aplicação de várias técnicas, sendo que a principal é o tear. João aplica a lã nos objetos dando-lhes uma originalidade e identidade próprias.

Atualmente, João Videira trabalha em conjunto com um representante que apresenta as suas obras a lojas de decoração e a arquitetos de interiores. Quem quiser poderá também fazer encomendas, por email, através do blog da Água de Prata.

João Videira tem uma verdadeira paixão pela sua arte. Revelou-nos que "há muito a fazer, uma vez que o público português ainda prefere adquirir objetos de decoração provenientes de outros países". Em breve, o artesão vai ter em exposição peças suas no "Nad Center" da Agência de comunicação Design Center, em Évora.

Expandir e inovar

Ema Blanc recorreu ao microcrédito em 2002 com o objetivo de expandir o negócio de joalharia e ampliar os stocks de peças.

O empréstimo concedido a Ema Blanc foi de 5.000 euros. Com esse valor alargou o seu negócio adquirindo novas matérias-primas, com mais qualidade e de acordo com o que lhe era solicitado pelos clientes.

Ema estabeleceu o seu atelier no centro de Lisboa, na Praça da Figueira, onde dirige não só a oficina como as vendas ao público. Segundo a joalheira, achave do sucesso do microcrédito, para além do capital investido, é a perseverança dos microempresários: "Não cruzar os braços e ir ao encontro das pessoas, é o fundamental para se atingir o sucesso”.

Microcrédito para um desenvolvimento sustentável

O Microcrédito chegou a Portugal através da Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC), uma associação privada sem fins lucrativos. Formada em 1998 por um conjunto de empresários, estes concluíram que, também, em Portugal se justificava o desenvolvimento da experiência do Grameen Bank, criado em 1976 por Muhamad Yunus no Bangladesh.

O Prémio Nobel da Paz, Mouhammad Yunus provou – com apenas 27 dólares que emprestou a 42 famílias – que não era necessário uma quantia elevada de dinheiro para as pessoas terem uma vida autónoma.

Para o Prof. Mouhammad Yunus as pessoas com poucos recursos, mais do que quaisquer outros clientes de crédito, são capazes de assumir a totalidade dos seus compromissos, independentemente de não terem capacidade de prestar garantias.

O objetivo fundamental deste projeto foi possibilitar que os mais desfavorecidos construam o seu próprio futuro. Segundo o prémio Nobel da paz, o microcrédito é um contributo "indispensável" para um desenvolvimento sustentável.

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