Para fazer face a uma situação que, para muitos gregos, é uma sentença de morte, um grupo de médicos decidiu começar a prestar cuidados de saúde gratuitos aos pacientes através de uma rede paralela, oferecendo horas de trabalho e medicamentos.
Até há pouco tempo, a Grécia beneficiava de um sistema de saúde europeu típico e universal. Com a crise, a realidade mudou, fazendo com que a população tenha agora de pagar os cuidados de saúde do próprio bolso. Para fazer face a uma situação que, para muitos gregos, é uma sentença de morte, um grupo de médicos decidiu começar a prestar cuidados de saúde gratuitos aos pacientes, oferecendo horas de trabalho e medicamentos.
A história é avançada pelo New York Times, que conta que Kostas Syrigos, chefe do maior departamento de oncologia da Grécia, e alguns colegas, decidiram unir-se e pôr mãos à obra para ajudar aqueles que perderam direito ao seguro de saúde e aos cuidados médicos gratuitos depois de, em Julho de 2011, o país ter assinado um empréstimo suplementar que estipulou que, após o fim dos benefícios, os cidadãos têm de suportar todos os custos.
No início deste ano, Syrigos e outros profissionais de saúde ergueram uma rede de apoio clandestina para ajudar pacientes sem seguro e outros doentes que funciona à parte do sistema oficial de saúde.
Com este objetivo, são utilizados medicamentos que sobram às farmácias, fármacos doados por companhias farmacêuticas e até oferecidos por famílias de doentes que perderam a luta contra o cancro, uma das patologias cuja falta de tratamento mais preocupações causa.
“Somos uma rede médica ao estilo 'Robin Hood'”, afirma Giorgos Vichas, cardiologista e co-fundador deste movimento. “Porém, esta ajuda tem um prazo de validade. A certa altura, as pessoas vão ser incapazes de doar devido à crise e, por essa razão, estamos a pressionar o estado no sentido de assumir a responsabilidade”, salienta o médico em entrevista ao jornal norte-americano.
Médicos fazem voluntariado após turnos “oficiais”
Os membros da equipa de Syrigos prestam, voluntariamente, cuidados médicos aos pacientes carenciados depois de terminarem os turnos “oficiais” e o número de pessoas reencaminhadas pelos médicos para esta rede não tem parado de subir.
“Às vezes chego a casa cansada, exausta, a ver a dobrar”, confessa Korina Liberopoulou, outra das especialistas que tem doado os seus serviços a esta causa. “Mas, enquanto houver materiais com os quais trabalhar, vamos continuar a fazê-lo”, assegura a médica.
Para Vichas, o resultado mais poderoso da terapia obtido junto dos pacientes tem mais a ver com o otimismo que o grupo gera junto daqueles que já quase tinham perdido a esperança do que propriamente com os medicamentos que lhes administram. “O que ganhámos com a crise foi o facto de tornarmos mais próximos”, defende.
“Isto é resistência. Nós somos uma nação, uma população que tem direito a voltar a pôr-se de pé com a ajuda que uns prestam uns aos outros”, conclui o especialista.