O cineasta recebeu o doutoramento honoris causa das mãos do vice-reitor da Portucalense. Além da entrega do doutoramento, foi ainda criada uma cátedra com o seu nome, a Cátedra Manoel de Oliveira de Cultura e Criatividade.
Durante a cerimónia, Abilio Hernandez Cardodo elogiou o cineasta, falando sobre o mérito que alcançou com a sua obra. “O seu lugar no panorama da mundial arte do cinema foi por si mesmo construído, sonho após sonho, texto após texto, filme após filme, horando esse princípio supremo da arte que é a dissidência, a liberdade de tudo dizer e de tudo experimentar”, cita a Lusa.
Manoel de Oliveira completou 80 anos de carreira, número que mereceu reconhecimento na sessão que também comemorou os 25 anos da Universidade Portucalense. “Não existe, nem nunca existiu na história do cinema um autor com uma presença tão longa e tão plenamente ativa”. O professor catedrático adiantou que Manoel de Oliveira vai começar a trabalhar num novo filme, a “Igreja do Diabo”, baseado nos contos de Machado de Assis.
O cineasta falou com humor durante o seu discurso. “Aqui na universidade, tratam-me por Manoel de Oliveira, em França tratam-me por `monsieur` Oliveira, em Itália por `il maestro`, em Portugal, de um modo geral, tratam-me por `Oh Manel`, e têm alguma razão porque tiram o `ó` e põe-no à frente”. Mas nem todas as palavras foram leves, algo que se comprovou quando o cineasta falou do estado da cultura em Portugal.
“Os governos devem auxiliar o cinema mas não como um favor, mas como uma obrigação, porque o cinema é o espelho da vida”, afirmou, recordando as palavras de um realizador chileno, diz a Lusa. À saída da cerimónia, foi mesmo ao ponto de afirmar que atividade não pode parar, porque isso seria sinónimo “de o país morrer”.
Aquele que é o cineasta mais velho do mundo em atividade, disse que o seu último filme se baseou precisamente nesta situação. “A situação é muito difícil, nós estamos em crise e o `Gebo e a Sombra`, o meu último filme, fala da honestidade, da honra e da pobreza. Trata da pobreza, da falta de valores, da falta de honradez, passa-se no princípio do século XX e por isso não tem um caráter muito ofensivo para representar a atualidade, mas por formas indiretas representa a atualidade”, afirmou.
[Notícia sugerida por Elsa Martins]