Justo Gallego, um ex-monge espanhol de 85 anos, dedica-se há meio século à construção da sua própria catedral em Madrid. Sem conhecimentos de engenharia ou arquitetura, ergueu um edifício de 40 metros de altura praticamente sozinho, aproveitando materiais de construção deitados ao lixo.
Don Justo, como também é conhecido, é um agricultor modesto, cujas habilitações se resumem a alguns anos de ensino primário – a eclosão da Guerra Civil espanhola impediu-o de terminar a quarta classe. Para ele, “não são precisos estudos, apenas é necessária força”, diz em entrevista à BBC.
A catedral que cada vez mais ganha forma num terreno que herdou dos seus pais, em Mejorada del Campo, é uma obra da sua fé católica. Don Justo era, aliás, um monge; o facto de ter contraído tuberculose determinou a sua expulsão do mosteiro da Ordem Trapista onde residia.
Com o dinheiro que obtém do aluger ou venda de outros terrenos herdados e também com alguns donativos privados, o octagenário tem vindo a erguer um edifício imponente, dominado por uma grande cúpula. Fê-lo com as suas próprias mãos, contando apenas ocasionalmente com a ajuda de especialistas e alguns familiares.
Todos os dias, chega à obra pelas 06h00, depois de recolher materiais de todo o tipo que recicla e integra nas várias estruturas da catedral. “Sinto-me esmagado por ver o que consegui criar. Faz-me agradecer a Deus”, revela Justo Gallego à BBC.
As autoridades locais de Mejorada del Campo nunca deram a sua autorização para o desenvolvimento da construção. Contudo, um dos arquitetos locais reconhece que o edifício é já um ícone na cidade.
Quanto a Don Justo, a determinação é a mesma, se não maior: “Se tivesse essa oportunidade, faria tudo de novo e construíria uma catedral ainda maior. Com o dobro do tamanho”, afirma.
