Desenvolver um material natural que pode combater o cancro do estômago, manipular moléculas para criar uma vacina contra a malária e reciclar o gás usado nas anestesias. Estas são as três investigações de jovens cientistas portuguesas que foram premi
Desenvolver um material natural que pode combater o cancro do estômago, manipular moléculas para criar uma vacina contra a malária e reciclar o gás usado nas anestesias. Estas são as três investigações de jovens cientistas portuguesas premiadas na 10.º edição do prémio L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.
Nesta edição, o júri científico – presidido pelo Professor Alexandre Quintanilha – selecionou os trabalhos de Inês Gonçalves (oncologia), Joana Tavares (Malária) e Luísa Neves entre (gás anestésico) entre cerca de 100 candidaturas. As galardoadas recebem a “Medalha de Honra” e 20 mil euros de financiamento numa cerimónia que decorre esta quarta-feira, dia 29, no Pátio da Galé, em Lisboa.
Microesferas para combater cancro do estômago
Inês Gonçalves (doutorada em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto) está a desenvolver um biomaterial capaz de se ligar à bactéria Helicobacter pylori, cuja infeção persistente está associada aos cancros gástricos, e que poderá remover esta bactéria do estômago.
Com o projeto agora distinguido, a investigadora quer eliminar a bactéria Helicobacter pylori do estômago, através do desenvolvimento de novos biomateriais com a forma de microesferas. Quando tomadas por via oral, estas pequenas esferas irão ligar-se às bactérias presentes no estômago, removendo-as pelo trato gastrointestinal.
Produzidas com um polímero natural proveniente da quitina existente no endosqueleto da lula – o quitosano – e revestidas com açúcares semelhantes aos existentes na parede e mucos do estômago, as microesferas terão diferentes dimensões e porosidades para que possam alcançar e ligar-se às bactérias nas várias regiões do estômago.
O objetivo da investigadora de 32 anos passa por desenvolver um tratamento inovador que possa ser usado em alternativa aos antibióticos que, sendo a única forma de combater a infeção por Helicobacter pylori, se mostram ineficazes num em cada cinco casos. Estima-se que o tratamento convencional com base em antibióticos falhe em cerca de 140 milhões de casos de infeção por Helicobacter pylori.
Incapacitar o parasita da Malária
Joana Tavares, licenciada em Ciências Farmacêuticas e doutorada em Bioquímica pela Universidade do Porto, verificou que o parasita da malária, uma vez que entra na circulação sanguínea, fica retido nos sinusoides hepáticos, o que lhe permite instalar-se no fígado e ficar retido na circulação hepática dando origem a graves problemas de saúde que podem culminar na morte dos pacientes.
A investigadora de 34 anos tem vindo a identificar as moléculas envolvidas neste processo para alterar esta capacidade do parasita e abrir novas pistas para o desenvolvimento de uma vacina que previna a malária. Segundo a Organização Mundial de Saúde, só em 2010 morreram cerca de 660 mil pessoas vítimas deste parasita.
Neste projeto, a investigadora dá continuidade aos trabalhos que realizou no Instituto Pasteur, em Paris, durante o seu pós-doutoramento.
Poupar dinheiro e o ambiente reciclando gás anestésico
A terceira investigadora distinguida, Luísa Neves, da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, está a desenvolver uma técnica capaz de capturar o dióxido de carbono produzido pela expiração dos pacientes durante a anestesia, purificando o gás anestésico para que este possa ser reutilizado.
Ao remover o dióxido de carbono, o gás anestésico pode ser reutilizado (nomeadamente o gás Xenon), reduzindo os custos hospitalares na área da cirurgia. O impacto económico será também relevante porque a estratégia proposta permite eliminar também a despesa hospitalar associada à incineração do hidróxido de cálcio, que é atualmente utilizado para a captura de dióxido de carbono.
Para além de eliminar este custo, o processo proposto possibilita igualmente a captura do dióxido de carbono que é nocivo ao ambiente. Para remover aquele que é um dos principais gases responsáveis pelo efeito de estufa, Luísa propõe conjugar um líquido iónico biocompatível e a enzima Anidrase Carbónica que, em contato com a corrente gasosa anestésica a tratar, vão remover o dióxido de carbono de forma seletiva. A técnica será aplicada através de um equipamento compacto, adequado para uso hospitalar.
Prémio já distinguiu 31 investigadoras portuguesas
Lançado em 2004 – numa parceria da L’Oréal Portugal, a Comissão Nacional da UNESCO e Fundação para a Ciência e a Tecnologia – este programa científico nasceu para incentivar jovens investigadoras que efetuam a sua pesquisa em Portugal, já doutoradas e com idade até aos 35 anos, a prosseguir estudos originais e relevantes para a saúde e o ambiente.
Até esta 10.ª edição, o prémio já distinguiu 31 investigadoras nacionais. O prémio internacional For Women in Science foi criado em 1998 e reconhece anualmente cinco cientistas consagradas, nos cinco continentes, tendo já distinguido 77 cientistas, duas das quais foram depois premiadas com o Nobel.
Em conjunto, a UNESCO e a L'Oreal lançaram também diversos programas de apoio a jovens cientistas que, até final de 2013, apoiaram mais de 1650 bolseiras, em 108 países.
Notícia sugerida por Elsa Martins, Maria Manuela Mendes, Elsa Fonseca e Maria da Luz
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