Mas esta não é uma viagem qualquer. É uma aventura extrema, eco-sustentável onde os três pretendem mostrar que é possível viajar com o indispensável e sem dinheiro, contando apenas com a força de vontade e a bondade alheia.
Para começar, os três amigos – que se conheceram enquanto estudavam na Universidade em Haia – viajam somente à boleia de quem estiver disponível para os transportar. Sem dinheiro, sem bilhetes de avião ou comboio já conseguiram chegar às Ilhas Canárias, em Espanha, altura em que o Boa Notícias contactou a Locomotive Organisation, organização que os próprios fundaram.
“A viagem está a dar-se muito mais dentro do que fora de nós”, conta Raphael que admite que era mesmo isso que pretendiam “viver o impossível, mostrar que se acreditarmos tudo é possível e que só a nossa mente é o limite para que os nossos sonhos não passem de sonhos”.
Segundo contam demoraram três semanas à boleia da Holanda até Marrocos onde passaram cinco semanas a “usufruir da hospitalidade dos marroquinos” que foram conhecendo pelo caminho. Já em Agadir atravessaram via marítima até Corralejo, em Fuerteventura. Aqui encontraram um capitão que lhes prometeu boleia no seu barco até Las Palmas, na Gran Canaria onde ainda se encontram.
De acordo com o Facebook da Locomotive, onde vão partilhando o seu diário de viagem, a próxima boleia para seguirem até Cabo Verde já está garantida.
“Os seres humanos são bons por natureza”
Vegetarianos, contam com a generosidade das pessoas locais para se alimentarem. Restaurantes, amigos que fazem pelo caminho, ou em mercados, ninguém lhes negou fruta, pão ou uma refeição completa.
Para a viagem levam três elementos essenciais: uma mochila equipada com painéis solar para carregarem os aparelhos elétricos que trazem, uma Life Saver Bottle para beberem água potável, e as máquinas fotográficas.
A fotografia é de resto uma paixão e um talento partilhado por estes três cidadãos do mundo. “As fotos que tirámos numa manhã bonita e solarenga num bairro de Essaouira [Marrocos] onde pessoas, contrastes e cores se fundiram em perfeita harmonia até agora são as nossas preferidas. Mostram algo tão simples e bonito: um novo despertar”, conta Raphael apesar de “ser difícil” escolher as fotografias preferidas.
De resto foi em Marrocos que admitem terem sido surpreendidos com a simpatia das pessoas. “Especialmente em Marrocos ficámos espantados com a bondade das pessoas. Desde que chegámos a Espanha que notámos que podemos encontrar esta característica em todo o lado e que ter a atitude certa facilita tudo”.
O segredo parece estar em abordar as pessoas com um sorriso. “Acima de tudo, o que mais nos surpreendeu foi constatar que todos os seres humanos são bons por natureza”.
Comunicar de resto não é problema para nenhum dos três. No total falam seis línguas contando com a língua materna de cada um, o holandês e o espanhol que aprenderam ao viverem na Holanda e no México.
“A maioria das pessoas fica contente e surpreendida com a nossa aventura e riem. Outras fazem muitas perguntas e desejam-nos sempre boa viagem. Algumas não concordam com a filosofia da nossa viagem e criticam-nos”.
Be Locomotive
“Ações criativas para um mundo mais consciente” é o lema da Locomotive Organisation da qual Raphael Fellmer, 26 anos, Nicola Zolin, 25, e Benjamin, 24, são fundadores. Pretendem demonstrar que nós próprios podemos ser a mudança que queremos no mundo e torná-lo um lugar mais sustentável e agradável para todos. Para atingir este ideal já organizaram workshops, exposições fotográficas, conferências, seminários, documentários e intercâmbios culturais.
Esta viagem é só mais uma etapa para esta sensibilização. Acreditam num mundo sem fronteiras em que ninguém seja ilegal e idealizam uma sociedade livre de dinheiro, que mais do que nunca acreditam ser possível depois de mais de dois meses em viagem sem o usarem. “Viver sem dinheiro é absolutamente interessante”, escreve Nicola num dos artigos que partilham no site da BeLocomotive.org.
“Não sabemos se estamos certos, se tudo isto não é apenas uma fase da nossa vida, um sonho do qual iremos acordar um dia. Os nossos corações estão tão cheios de felicidade apoio e amor pela humanidade que mesmo situações menos agradáveis ou agressões não conseguirão destruir o que nós vimos e aprendemos nesta viagem!” remata Raphael.
Uma imensa curiosidade, um coração aberto para a troca de ideias, vontade de conhecer o próximo sempre com um sorriso sincero e pôr em prática o que sonhamos com energia e determinação continuará a ser para estes três amigos a melhor maneira de continuar este viagem não só pelo mundo, mas também pela vida.
Ana Margarida Pereira