A criação de um Centro de Recuperação de Competências Psicossociais e de centros de alojamento transitórios estão entre as medidas que a Santa Casa da Misericórdia pretende implementar com vista a reabilitar os 852 sem-abrigo da cidade.
A criação de um Centro de Recuperação de Competências Psicossociais e de centros de alojamento transitórios estão entre as medidas que a Santa Casa da Misericórdia pretende implementar com vista a reabilitar os 852 sem-abrigo que vivem atualmente na cidade de Lisboa.
Estas respostas sociais foram anunciadas pela Santa Casa na tarde de quarta-feira durante a apresentação de um levantamento do número de sem-abrigo da capital desenvolvido no âmbito do “Programa Intergerações/Intersituações de Exclusão e Vulnerabilidade Social”.
A contagem, feita a 12 de Dezembro do ano passado, revelou a existência de mais de oito centenas de pessoas a viver na rua na maior cidade portuguesa, na sua maioria homens, portugueses, solteiros e sem fontes de rendimento.
Na noite em que a contagem foi efetuada, com a colaboração de mais de 800 voluntários que percorreram todas as ruas de Lisboa, foram sinalizados 509 sem-abrigo na rua e 343 que dormiram em Centros de Acolhimento, tendo a pessoa mais nova contactada 16 anos e a mais velha 85.
Como forma de fazer frente a esta dura realidade e minimizar este fenómeno, o coordenador do “Programa Intergerações/Intersituações de Exclusão e Vulnerabilidade Social”, João Marrana, explicou que a Santa Casa está a preparar um conjunto de respostas sociais.
Uma das grandes apostas será a criação do Centro de Recuperação de Competências Psicossociais, “essencial para ajudar na reintegração de pessoas sem-abrigo na sociedade”, contou.
“A rua faz esquecer um conjunto de competências que são básicas, como hábitos de higiene ou de relacionamento social. A ideia é haja um espaço onde estas pessoas possam reaprender essas competências”, ilustrou o responsável, que afirmou que se pretende também criar, em parceria com a autarquia, centros de alojamento de transição.
Tratar-se-á de espaços provisórios onde os sem-abrigos poderão ficar até um total de nove meses. “Pretendemos que sejam centros de dormida que tenham o conforto de uma casa normal. Aqui é suposto que possam ter as condições para reorganizar a sua vida e reaprender as responsabilidades de gerir uma casa”, descreveu Marrana.
De acordo com o coordenador do programa, a Santa Casa tem já vários “espaços em vista” e, “se tudo correr bem”, os primeiros sem-abrigo vão poder ir viver para centros deste tipo já no próximo verão.
Além destas medidas, uma terceira passará pela criação de um núcleo de ligação composto por mediadores que, na maioria dos casos, viveram na rua no passado.
Caraterização das pessoas que estão na rua mudou
A propósito dos números obtidos durante a contagem dos sem-abrigo na cidade, Rita Valadas, administradora da Santa Casa da Misericórdia para a Ação Social, admitiu à Lusa que estes eram já “expectáveis”.
“É muito perto daquilo que nós tínhamos ideia que existia. O que mudou foi a caracterização das pessoas que estão na rua”, realçou, acrescentando que a crise não afetou “a população sem-abrigo tradicional”, mas sim “pessoas vulneráveis de outros estratos económicos e com outra escolaridade”.
Notícia sugerida por Vítor Fernandes