Acha que é introvertido ou extrovertido? Ao tentar responder, se calhar tenta examinar o quanto gosta de festas e de conversar com estranhos. Ou talvez se lembre daqueles testes de personalidade na Internet, idílicos para os que gostam de procra
Quando avaliamos se alguém é introvertido ou extrovertido, a tendência é examinar o quanto essa pessoa gosta de festas e de conversar com estranhos. Para uma resposta objetiva, pode tentar uma abordagem diferente e usar um limão. Mais especificamente, sumo de limão concentrado. O médico Christian Jarret compilou informação sobre testes de personalidade através do limão num artigo para a
BBC Future.
Este teste, que à primeira vista pode parecer pouco fiável, tem na verdade uma longa história no mundo da psicologia. A primeira versão do teste foi criada nos anos 60 por Hans e Sybil Eysenck, dois pioneiros da investigação sobre a psicologia da personalidade.
Agora, há uma versão simplificada deste teste que qualquer um pode experimentar em casa e para a qual só é necessário um cotonete com uma linha amarrada precisamente a meio e um limão.
Quer experimentar? Então coloque uma das pontas do cotonete sobre a língua e segure durante 20 segundos. De seguida, ponha cinco gotas do sumo de limão na língua, engula e coloque a outra ponta do cotonete sobre a língua por mais 20 segundos. Tire o cotonete da boca e segure-o pela linha.
A ideia é observar se o cotonete fica na horizontal ou se a ponta usada depois de beber o sumo está agora mais pesada.
Se a sua reação ao sumo fizer com que essa ponta fique mais pesada, é possível que o sumo o tenha feito salivar mais. De acordo com algumas correntes da psicologia, este é um sinal de que você é introvertido.
Por outro lado, se o cotonete ficar na horizontal, isso significa que não teve grande reação ao sumo, e nesse caso é provavelmente extrovertido.
Estimulação cortical
Quando Hans e Sybil criaram esta experiência, o seu objetivo era ver se podiam usar a teoria da "estimulação cortical" para determinar se uma pessoa é introvertida/extrovertida.
Segundo o casal, este aspeto da personalidade tem uma base psicológica que diz que os introvertidos têm um patamar de estimulação cortical mais alto, o que os faz reagir mais acentuadamente a estímulos. Basicamente, sentem as coisas com mais intensidade, o que talvez os faça mais reservados em determinadas situações.
Os Eysencks defendem que o teste do limão sustenta esta teoria porque as pessoas que tinham uma pontuação maior em questionários para medir a introversão também salivavam mais em resposta ao sumo.
Apesar da proporção de introversão e extroversão de um indivíduo ser realmente influenciada por fatores biológicos, sabemos hoje que a teoria da estimulação cortical é apenas parcialmente verdadeira.
Existem muitos indícios, inclusive estudos com imagens do cérebro, que mostram que os introvertidos tendem a responder com mais ênfase a ruídos altos e outros estímulos sensoriais. Contudo, em contradição à teoria dos Eysenck, não poucas provas científicas de que as pessoas introvertidas sejam mais sensíveis a todo o tipo de estímulos em geral.
O limão e a empatia
Em qualquer caso, esta não foi a única vez que se usou limão em testes de personalidade. Um estudo publicado em 2014 sugere que também podemos usar esta fruta para testar o nível de empatia de uma pessoa.
Com a intenção de elaborar um teste mais objetivo, Florence Hagenmuller e os seus colegas da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, pediram a voluntários que colocassem três pedaços de algodão na boca e assistissem a dois vídeos de um minuto.
Um dos vídeos mostrava um homem a cortar e a comer um limão, enquanto que o outro exibia o mesmo homem a tirar bolas de plástico de uma caixa e a colocá-las numa mesa.
Após as visualizações, os investigadores recolheram os pedaços de algodão e pesaram-nos para ver quais tinham mais peso. A conclusão a que chegaram foi que, de maneira geral, os participantes salivavam mais ao ver o homem comer o limão do que com o outro vídeo.
Este é um exemplo do que os psicólogos chamam de "ressonância autonómica" – a maneira como automaticamente imitamos o estado fisiológico das outras pessoas – como quando bocejamos, por exemplo, ao ver alguém bocejar ou como reagimos à dor dos outros.
Os investigadores também descobriram que, quanto mais os participantes pontuavam num questionário paralelo para medir empatia (concordavam com afirmações como "Eu preocupo-me com as pessoas menos afortunadas que eu" e "Sinto-me muito emocionado com as coisas que vejo”), mais estes salivavam ao ver o vídeo do homem a comer o limão.
O teste da empatia é mais difícil de reproduzir em casa e requer a participação de várias pessoas para se poder comparar o peso da saliva e retirar conclusões.
Hagenmuller e sua equipa afirmam que o teste deve ser aplicado só no caso de pessoas com esquizofrenia e autismo, duas condições que limitam a empatia. A vantagem desse teste é que não requer nenhuma participação ativa por parte do voluntário.
De qualquer forma, nada o impede de experimentar também, por isso da próxima vez que comprar um limão já se pode perguntar se é para fazer limonada ou para ver o que este diz sobre a sua personalidade?
Em qualquer caso, esta não é a única aplicação do limão em testes de personalidade.
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