Pais com limitações cognitivas, pais com filhos deficientes, pais cujos filhos lhes foram retirados pelo tribunal. A Leque – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Necessidades Especiais trabalha com todo o tipo de famílias, no sentido de fornecer competências emocionais, cognitivas e parentais.
O projeto surgiu na sequência de uma tese de doutoramento que Celmira Macedo, especialista em Educação Especial, está a realizar na Universidade de Salamanca (Espanha) e que lhe permitiu detetar uma carência na sociedade. “Os pais queixavam-se muito de que havia falta de formação e Informação sobre como lidar com os filhos com necessidades especiais”, explica Celmira ao Boas Notícias.
Perante este desafio, Celmira decidiu suspender a tese – entretanto retomada – para por mãos a obra. Em Março de 2009, realizou o primeiro curso dirigido a pais de filhos com necessidades especiais (NE), em Bragança. Dessa primeira formação surgiu a Associação Leque – formada pelos próprios pais e por Celmira -, com sede em Alfândega da Fé. Seguiram-se novas ações de formação em Alfândega da Fé, em Mirandela e nos Açores.
Mais do que uma escola de pais
Os cursos dirigidos aos pais abordam temas variados – como alimentação, poupança, competências emocionais – e têm uma duração que vai dos seis aos oito meses. Segundo a avaliação que é feita aos formandos, todos os parâmetros avaliados – competências emocionais, autoestima, a escala de esperança, as competências parentais, a escala de depressão, stress e ansiedade – registam melhorias no final da ação.
Entre os pais que lhe passaram pelas mãos, há casos que Celmira aponta com particular orgulho, como o de uma mãe “que entrava nas aulas num estado de revolta muito grande, sempre a chorar”. “Hoje em dia é presidente da assembleia geral da Associação Leque… Era muito derrotista e tornou-se uma pessoa participativa e interventiva”, salienta.
Neste momento, o projeto vai mais longe do que as Escolas de Pais. Sob alçada da Associação Leque funciona também um Centro de Dia para pessoas com deficiência com características únicas ao nível da região de Bragança e mesmo do país. Aqui implementam-se terapias, da parte da manhã, e oficinas (de estética, artes plásticas, agricultura, desporto, entre outras) da parte da tarde. Para usufruir do espaço, os utentes pagam apenas 30 euros, um valor que inclui ainda o pequeno-almoço e o lanche.
Apesar da importância socioeconómica do projeto – que foi recentemente reconhecido com o prémio Manuel António da Mota, no valor de 50 mil euros – apenas duas das ações receberam financiamento do Estado. “O trabalho assenta sobretudo no voluntariado mas continuamos a concorrer a apoios até porque precisamos de equipamento e de outros materiais que custam dinheiro”, diz Celmira.
Um livro e novos projetos para breve
Mesmo sem grandes recursos financeiros, o projeto cresce exponencialmente, com o apoio e o envolvimento dos próprios pais. Em breve, será inaugurado um Centro de Noite e, já em Agosto, a associação vai inaugurar um Centro Férias inovador que funcionará todo o ano oferecendo aos pais a possibilidade de ficarem com os filhos durante a estadia.
Celmira acaba também de desenvolver um programa especial para formação de formadores, com o objetivo de expandir a todo o território o seu método de ensino e fornecer ferramentas para que outros técnicos e formadores possam trabalhar com estes pais.
O guia já está em formato livro com o título “Escola de Pais.nee – Guia de Formação Parental no âmbito das Necessidades Especiais”. O lançamento oficial decorre dia 09 de Junho, no Centro Cultural de Alfândega da Fé. Sobre o guia de formação, Celmira explica que “o objetivo é a partilha”. “Sem isso os projetos não funcionam”, conclui com uma pequena gargalhada.
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