Na altura, houve a necessidade de se inovarem “as tecnologias de processamento dos filmes, de forma a permitir o crescimento de filmes com excelentes propriedades elétricas e óticas à temperatura ambiente, algo que não se fazia até então. Posteriormente, estudaram-se as propriedades em papel, para se verificar de que forma se poderia explorar a sua utilização, como um verdadeiro material de eletrónica na produção de dispositivos ativos, como transístores, o que só aconteceu em 2006. As primeiras provas concretas apareceram um ano depois e, de imediato, a possibilidade de patentear a ideia”, acrescenta. Os investigadores da Universidade Nova de Lisboa desenvolveram assim uma nova geração de microchips, feitos em papel. “Consiste em utilizar-se o papel como um material de eletrónica e, como tal, poder ser aproveitado no fabrico de um transístor”. Para que se perceba melhor, Elvira Fortunato compara um transístor com uma sandes mista: “temos uma fatia de pão de um lado, uma fatia de queijo no meio, depois o fiambre e, do outro lado, mais pão. Neste caso, as fatias de pão são os materiais condutores, que permitem aplicar e recolher o sinal elétrico que se aplica em ambos os lados. O queijo é o dielétrico (material isolante), e permite que se estabeleça um campo elétrico suficientemente forte que induza cargas elétricas na zona mais nobre da sandes, que é o fiambre, ou seja, o semicondutor, nesta estrutura”.
A invenção consistiu em usar-se, pela primeira vez, “o papel como dielétrico em todo o processo de arquitetura do dispositivo”. No interior do papel existem “cargas elétricas estáticas que se equilibram e que permitem explorar a capacidade de o papel ter cargas elétricas e de as armazenar. Esta peculiaridade, associada às fibras do papel, fazem com que a área desta estrutura seja milhares de vezes superior à que está somente à sua geometria permitindo que o dispositivo transistorizado possa controlar correntes elétricas muito mais elevadas, usando muito baixas tensões de controlo, como 1 V”, explica a investigadora.
Relativamente às dificuldades que os cientistas e investigadores sentem em passarem a ter as suas descobertas transpostas nas empresas, Elvira Fortunato defende que o Governo deveria pensar em conceder incentivos estratégicos às mesmas, em prol da sua modernização e inovação dos seus produtos. A cerimónia de entrega do Prémio Europeu do Inventor 2016 tem lugar a 9 de junho, em Lisboa. A dupla de investigadores representa Portugal, entre 15 finalistas, oriundos de 13 países.
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