por Margarida Cruz e Sara Cunha
O Inverno é a única estação do ano em que as instalações da quinta não estão preenchidas por milhares de bichos da seda. Para além do frio e da humidade adversas, os meses mais gelados são a melhor altura para preparar dois hectares de amoreiras para a folhagem que, depois, irá alimentar as próximas criações.
Três criações de 60.000 bichos por ano
É por volta de Abril/Maio que chegam os primeiros ovos, divididos por três caixas de 20.000 exemplares cada, vindas diretamente de Itália. Os mesmos são encaminhados para a maternidade da quinta, especialmente climatizada para uma eclosão simultânea e saudável.
Divisões especialmente climatizadas
Dispostos sobre grandes tabuleiros de ferro, os milhares de bichos da seda que compõem cada criação chegam a consumir meia tonelada de folhas de amoreira nas semanas finais que antecedem a construção do casulo. Nessa altura, ao longo de toda a criação, são colocadas pequenas estruturas chamadas 'encabanamentos', todas elas de forma estratégica.
1.000 metros de fio por casulo
“Gosto muito de ajudar a limpar casulos. Demora um bocado de tempo, porque são muitos, mas é bom”, conta Rita ao Boas Notícias. “Também costumo apanhar folhas de amoreira e dá-las de comer aos bichos. São muitos”, diz, por sua vez, Sandra.
“São desenrolados, em simultâneo, entre 10 a 12 casulos, que nos dão um cabo com uma determinada espessura, que depois juntamos entre 5 a 8 vezes para conseguir a espessura final, que varia consoante a finalidade da seda”, elucida Armando Fernandes, que explica ainda o facto de haver dois tipos diferentes desta fibra animal: a que pode ser trabalhada no tear e aquela que é usada nos tradicionais bordados de Castelo Branco.
Rentabilizar uma iniciativa social e inovadora
Por isso mesmo, daí para a ideia de comercialização, o processo foi natural. “Tem de se pensar: temos a seda, muito bem, mas não vamos ficar com a seda para nós. Vamos comercializá-la. Como? Como é sabido, a região de Castelo Branco tem muitas bordadeiras que bordam em casa, inclusive, a Escola de Bordados de Castelo Branco”, afirma Maria de Lurdes Pombo Costa, presidente da APPACDM. “Então decidimos, desde logo, avançar com a venda da nossa seda para o mercado”.
“Por exemplo, umas peças que saem muito bem são os cachecóis para as senhoras, os paninhos de seda, toalhas de batismo, que normalmente é sempre uma peça bastante procurada pela genuinidade do produto”, acrescenta.
Portugal abre as portas do primeiro Museu da Seda
O esforço e dedicação que têm acompanhado esta atividade, no entanto, fazem com que o sucesso da produção de seda em Castelo Branco chegue ainda mais longe, com a autarquia a anunciar a construção do primeiro Museu da Seda a nível nacional. O projeto, inédito no país, está previsto abrir portas no final do próximo Verão.
Segundo a responsável, “na prática, as pessoas vão poder, não só imaginar as amoreiras e sim ver as amoreiras, não só imaginar como se fazia a extração antiga artesanal mas também ver como é que hoje se faz uma extração mais industrial”.
E é desta forma que, do Oriente para a Península Ibérica, a seda começa a conquistar toda uma nova rota, desta vez, em território nacional, e com um lado solidário a dar-lhe ainda mais valor.