Aquele que é um dos eventos em Portugal mais premiado pela sua política “verde” continua a inovar com o intuito de contribuir para um planeta mais equilibrado e sustentável. Na 12ª edição do Boom Festival, na Lua Cheia de 22 a 29 de julho, em Idanha-a-Nova, os participantes irão encontrar, junto à área Eco Tech Hub, a instalação Plastic0circular, a qual é constituída por equipamentos de reciclagem interativa em pequena escala, que permitem transformar lixo plástico em novos objetos através da tecnologia de impressão 3D. A instalação, cofinanciada pela Associação IdanhaCulta, que gere a Boomland e é responsável pela organização do Boom Festival e do Being Gathering, e pela iniciativa Sê-lo Verde, e que tem vindo a ser usada enquanto ferramenta educativa junto dos mais novos, já sensibilizou 25.000 pessoas – parte presencialmente e parte através da visualização de um vídeo produzido para o efeito.
Assim calcula, pelo menos, a associação Zero Waste Lab – responsável pela iniciativa PlasticSunDays – que, em colaboração com a Circular Economy Portugal, concebeu o projeto. Este teve a sua estreia no Being Gathering, em junho do ano passado e, de lá para cá, tem percorrido as escolas do país e eventos que promovem a sustentabilidade ambiental. “O Boom Festival vai ser a nossa maior montra, já que é uma plateia muito maior, com outro nível de consciencialização ambiental. Acreditamos que será um projetor de alta consciência”, afirma Ana Salcedo, da Zero Waste Lab, que preconiza uma sociedade de zero desperdício e que, através do seu “braço armado”, o projeto PlasticSunDays, procura evitar que mais plástico vá parar ao mar através de limpezas de praias em “dias de sol”. Recorde-se que o oceano, maior fonte de oxigénio, responsável pelo equilíbrio térmico e atmosférico, é depósito de mais de 12 milhões de toneladas de lixo por ano, 80% dos quais plástico, que nunca se decompõe.
A instalação inclui quatro unidades: uma de lavagem e secagem do copo de plástico, por exemplo, outra de trituração do mesmo e uma terceira de extrusão. Com o filamento de plástico que esta última gera e que é submetido à impressão 3D, produz-se um novo objeto. Trata-se de um processo artesanal e, apesar de haver maquinaria industrial com o mesmo propósito, este visa apenas envolver ativamente os participantes como modo de os sensibilizar para a reutilização, bem como para a revisão dos seus hábitos de consumo e do uso excessivo de plástico.
A Zero Waste Lab será ainda responsável por uma conferência sobre a redução do uso do plástico no dia 23 de julho, às 13h30, na Liminal Village, e por um workshop na área Sacred Fire sobre como fazer os nossos próprios detergentes (champôs ou sabonetes, por exemplo), o qual será orientado por Ana Milhazes, embaixadora do movimento LixoZeroPortugal.
A associação reuniu ainda uma equipa de Eco Guardians, composta por 18 voluntários de 11 nacionalidades, que estará disponível nesta edição do Boom Festival, para ajudar as pessoas “a assumirem a responsabilidade e a se comprometerem a dar passos mais profundos em direção a um estilo de vida de lixo zero, tornando-se ativas e ativistas nas suas esferas de influência”, explica Ana Salcedo. Ao mesmo tempo, os voluntários “irão colecionar histórias e inspiração de tantos outros que são fundamentais para a associação, de forma a nos conectarmos e fortalecermos a rede de ativismo internacional. E, claro, contribuirão para que os boomers tenham comportamentos de limpeza e de separação dos lixos adequados”, completa.
80 toneladas de composto produzido com lixo orgânico do Boom 2016
Efetivamente, a questão do lixo é uma das preocupações da organização do Boom Festival. Por isso mesmo, cada boomer recebe um welcome kit que, além de um sabonete biodegradável para evitar a poluição da água, contempla dois sacos para separação dos resíduos que produzirão ao longo da sua permanência no festival e um cinzeiro portátil. “Se assumirmos que cerca de 20.000 participantes fumam e que, nos oito dias de festival, consumirão um maço por dia, cerca de 3,2 milhões de beatas, que possuem cerca de quatro mil tóxicos e demoram 10 a 12 anos a degradar-se, serão encaminhadas para um destino adequado”, contabiliza Ricardo Alves, responsável pela área ambiental do Boom Festival.
O welcome kit foi um das iniciativas do Boom Festival que mereceu o financiamento do Sê-lo Verde este ano. As outras duas visam a disponibilização de utensílios biodegradáveis na restauração – em vez de plástico –, de modo a que estes, juntamente com os resíduos orgânicos, possam ser encaminhados para compostagem, e o reforço da produção de energia solar.
Com o composto resultante dos resíduos orgânicos e dos utensílios biodegradáveis, a organização do Boom poderá fertilizar os solos da Boomland e de terrenos onde se pretenda plantar árvores na região de Castelo Branco. Em 2016, a organização conseguiu produzir 80 toneladas deste composto.
Por outro lado, a aquisição de mais 12 painéis solares permitirá ao Boom aumentar a sua pequena central de energia renovável, composta agora por um total de 28 painéis. “Esperamos produzir no nosso sistema off the grid cerca de 20 kVA de energia por hora em dias de sol, o que nos permite eliminar o consumo estimado de seis litros de gasóleo de um gerador, utilizado para produzir a mesma quantidade de energia”, resume Ricardo Alves.
Ainda com o objetivo de redução da emissão de gases nocivos para a atmosfera, o Boom Festival promove a utilização de transportes públicos. Tal como em edições anteriores, o festival disponibilizará autocarros desde Lisboa, Madrid, várias cidades de França e Suíça, num total de 230, mais 20 que em 2016. Esta medida contribui para evitar a emissão de mil toneladas de CO2.
Distinguido em 2008, 2010, 2012, 2014 e 2016 com o “Outstanding Greener Festival Award”, o prémio mundial mais importante de eventos sustentáveis atribuído por “A Greener Festival”, o Boom é, desde 2010, a convite da UNEP – United Nations Environment Programme, organismo pertencente à ONU, membro da iniciativa “United Nations Music & Environment Stakeholder”.
De regresso aos 150 hectares da Boomland, o Boom Festival é um evento bienal de cultura independente e sustentável que, desde 1997, se realiza durante lua cheia de julho ou agosto, sendo uma referência internacional.