Quer seja pela identificação de necessidades reais do mercado, quer pela descoberta de novas invenções com caráter evidente de comercialização, as universidades e empresas têm adotado estratégias de inovação aberta, estabelecendo consórcios de i&d.
Estes projetos conjuntos são amplamente incentivados pela Agência Nacional de Inovação que, a
o longo de vários anos de Programas-Quadro europeus, tem assistido a bons paradigmas de cooperação entre o SCT e as empresas.
A prova de que os fundos nacionais e europeus têm impacto substancial na despesa em i&d realizada no setor empresarial, está no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN) 2013. O relatório indica que, a seguir ao recurso a capitais próprios (919 943,6 milhões de euros), o financiamento de atividades de investigação e desenvolvimento advém maioritariamente de fundos do Estado (97 456,9 milhões de euros) e do estrangeiro (41 051,0 milhões de euros).
Neste âmbito, refe
rimos dois exemplos da relação estabelecida entre empresas e entre empresas e entidades do SCT.
A EFACEC, grande empresa nacional a operar nos setores energético, da engenharia e mobilidade, já participou em 18 projetos no âmbito do QREN. Catorze em copromoção e quatro mobilizadores.
Os instrumentos de i&d em copromoção são fulcrais para incentivar as parcerias nestes processos de inovação, sobretudo a vertente de circulação do conhecimento e de pessoas entre as várias entidades. Além da EFACEC, participaram mais 34 empresas e 15 entidades não empresariais do sistema de investigação e inovação.
Dentro destes projetos, destaca-se o INOVGRID, desenvolvido pela EDP Distribuição, na qualidade de chefe do consórcio e EFACEC Engenharia e Sistemas, S.A., Contar Electrónica Industrial, Lda. e LogicaTI Portugal S.A. como copromotores. Este teve um financiamento de 3 649 309,83€ do QREN, face a um montante de investimento total aprovado de € 6 248 879,88 a executar entre março de 2008 e dezembro de 2010. Teve como principal objetivo a substituição dos tradicionais contadores de Baixa Tensão por dispositivos eletrónicos, integrados numa rede elétrica automatizada de terceira geração (smart grid).
A EFACEC Engenharia e Sistemas também participou como copromotora, a par com o INEGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial, NO PROJETO C5 Elétrico. O consórc
io, liderado por pela Caetanobus, desenvolveu um autocarro elétrico para utilização em via pública, utilizando apenas propulsão com recurso a potência eletromotriz. Financiado em € 389.053,88€ pelo QREN, teve um investimento global aprovado de 1 094 244,13€.
Na globalidade destes projetos de copromoção, a EFACEC obteve um apoio público de 4 173 033€, num total de investimento elegível de 8 649 507€.
Paralelamente, a EFACEC participou em quatro projetos mobilizadores, consórcios de maior dimensão e voltados para a resolução de problemas mais complexos e abrangentes, que necessitam da integração e colaboração de várias áreas de conhecimento e setores.
O TICE.MOBILIDADE foi o mais recente projeto mobilizador participado pela EFACEC Engenharia e Sistemas, pela Meticube – Sistemas de Informação, Comunicação e Multimédia, na qualidade de líder do consórcio, e mais 28 empresas e entidades. Procurar explorar soluções ecológicas e energeticamente eficientes para o transporte urbano, com base em tecnologias de informação e comunicação (TIC).
Com um montante de investimento global aprovado de 5 637 912,69€, teve um financiamento de 4 014 549,5 pelo QREN e a duração de dois anos (2011 a 2013).
No âmbito do Portugal 2020, a EFACEC já participou em dois projetos: um de copromoção e outro demonstrador. Os projetos demonstradores procuram evidenciar, em ambiente real de utilização, a vantagem económica e técnica de invenções resultantes de projetos de i&d já terminados.
Prestes a arrancarem, estes projetos ainda não têm resultados concretos, no entanto a EFACEC já recebeu um apoio global de 53 380€.
Tendo encerrado recentemente nova fase de candidaturas ao PT2020, o grupo tem igualmente cinco projetos de copromoção em fase de análise com um investimento proposto total alocado à empresa no valor de 6 827,210€.
Reconhecendo a importância da aposta em i&d, e segundo dados fornecidos pela EFACEC, em 2014 trabalhavam 252 pessoas nas áreas de investigação e desenvolvimento do grupo. Um número só ultrapassado no ano de 2012 (com 302 colaboradores) e em 2010 (com 281 pessoas). Simultaneamente, o investimento de 16,32 milhões de euros em i&d, registado em 2014 representa um ligeiro aumento face ao ano anterior, em que foram investidos 16,05 milhões de euros em i&d.
A Feedzai, fundada há seis anos em Coimbra, é especialista no combate à fraude, tendo desenvolvido a mais avançada plataforma de prevenção, alicerçada em machine learning e big data.
Os maiores bancos mundiais, fornecedores de pagamentos e retalhistas um pouco por todo o mundo recorrem à tecnologia Fraud Prevention That Learns da Feedzai para conseguirem reduzir o risco associado a operações bancárias e compras, quer estas se realizem pessoalmente, online ou via dispositivos móveis.
Prestes a alcançar mais de 1,2 biliões de dólares em volume diário, também deve muito deste sucesso à participação em programas facilitadores da transferência de tecnologia entre o mundo académico e as empresas.
Filipe Neves, Finance Director da Feedzai, indicou que os cinco projetos em copromoção em que a empresa participou no âmbito do QREN “foram a base do desenvolvimento da oferta atual da Feedzai. O primeiro foi o que esteve mais próximo do desenvolvimento do motor de serviço de dados, todos os outros foram projetos incrementais para melhorar a oferta na área de deteção de fraude”.
Entre as entidades participantes, a Feedzai colaborou com a Universidade de Coimbra e a Critical Software, entre outras.
O projeto ao Portugal 2020 que têm em análise foi apresentado em parceria com o Instituto Pedro Nunes. Tem como objetivo melhorar e potenciar o serviço de deteção de fraude na área de ecommerce. Com este projeto, a Feedzai pretende desenvolver um módulo específico para que os seus clientes possam ter a capacidade de adaptar de forma rápida, fácil e flexível os seus próprios modelos de machine learning.
O responsável da empresa garantiu que os projetos do QREN “tiveram um impacto substancial na oferta atual da Feedzai, sendo difícil dissociar um dos outros”.
O apoio público que a Feedzai teve ao longo dos cinco projetos em que participou – 1 178 447€ – já foi largamente ultrapassado com o volume de faturação registado pela empresa no ano passado – 20 milhões de dólares, dos quais 95% são de exportação. O ano de 2015 representou um crescimento de mais de 200% face a 2014. E Filipe Neves aponta que estão bem lançados para atingir os 35 milhões de dólares em 2017.
A Feedzai procura sempre recrutar o melhor talento possível, pelo que a sua equipa de 105 colaboradores (65 em Portugal, 35 nos Estados Unidos e cinco no Reino Unido) engloba alguns licenciados, mas maioritariamente mestres e doutorados.
Para além da promoção da i&d se basear nas candidaturas a sistemas de incentivos em copromoção, a Feedzai também tem uma política de inovação aberta. Através desta, convidam os seus trabalhadores a darem sugestões de melhoria para os seus produtos de deteção de fraude.
Para terminar, é também de assinalar a importância que o SIFIDE – Sistema de Incentivos Fiscais à I&D Empresarial – tem no aumento da competitividade das empresas, apoiando o seu esforço em investigação e desenvolvimento a partir da dedução à coleta do IRC das respetivas despesas. As várias empresas do grupo EFACEC, que incluem atividades de contracting e ambiente, na área de engenharia; de transformadores, servicing, aparelhagem de média e alta tensão e automação, na área de energia; e de transportes, sistemas de eletrónica de potência, e mobilidade elétrica, na vertente de mobilidade, beneficiam deste benefício fiscal desde 2006.
De 2011 a 2014, o grupo registou um investimento em i&d no valor de 27 789 547,18€, obtendo um crédito apurado de 13 510 578,79€ (aproximadamente metade do montante investido). Em comparação, no mesmo intervalo temporal, a Feedzai investiu 882 311,36€, beneficiando de uma dedução de 534 570,40€ (um valor ligeiramente superior a metade do valor alocado para i&d).
Em qualquer dos casos analisados, verifica-se o retorno positivo alcançado, não só para as empresas participantes nos vários sistemas de incentivos à i&d em cooperação (e outros), como para as próprias entidades do SCT que vêm o conhecimento desenvolvido com impacto substancial na criação de valor para a economia.
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