O Centro Hospitalar de S. João do Porto está a produzir uma molécula em falha no mercado português. O objetivo é que nos próximos meses o medicamento esteja disponível para administrar aos doentes ali internados. Depois, a produção deve continuar.
O Centro Hospitalar de S. João do Porto está a produzir uma molécula em falha no mercado português. O objetivo é que nos próximos meses o medicamento esteja já disponível para administrar aos doentes ali internados e que, posteriormente, seja possível continuar a produção de outros fármacos em fim de linha para uso próprio.
Em declarações à Lusa, Paulo Carinha, diretor do Serviço de Farmácia daquele centro hospitalar, explica que a decisão de fabricar determinados medicamentos surgiu do facto de alguns produtos que já perderam a patente e que são essenciais ao tratamento dos doentes terem deixado de ser distribuídos em Portugal por razões económicas, ou seja, por terem deixado “de ser rentáveis para os fornecedores, obrigando-nos a recorrer à importação”.
“Para evitar a importação e termos um custo inferior, decidimos iniciar a produção dessas moléculas. Começámos com uma, a dexametasona (utilizada no tratamento de doentes oncológicos), que, nesta altura, está em testes, e esperamos que em Julho/Agosto/Setembro esteja concluído o processo analítico e o produto esteja disponível para ser utilizado nos doentes”, antecipa.
Além de suprir a necessidade dos pacientes, este sistema de produção interna de medicamentos vai permitir ao centro hospitalar cortar nas despesas com fármacos vindos do exterior. No caso da dexametasona, Paulo Carinha estima que a poupança seja de “15 a 20 mil euros por ano”, fazendo “cálculos por baixo”.
O responsável sublinha, no entanto, que o propósito do fabrico de medicamentos no Porto “não é competir com laboratórios, nem quebrar patentes”. Segundo Paulo Carinha, o objetivo é apenas “aproveitar um nicho de mercado e produzir produtos que estão em fim de linha e que por falta de rentabilidade não estão a ser distribuídos no nosso país”.
Projeto conta com a colaboração do Infarmed
Dado que acredita que “o projeto será mais rentável se produzido em maior escala”, o diretor do Serviço de Farmácia admite que, para além do São João, o medicamento possa ser disponibilizado a outras unidades que não têm capacidade de produção.
“Para essa escala semi-industrial, estamos a elaborar um caderno de encargos para alterar a área de produção de sólidos [pós, comprimidos e cápsulas] porque a existente é insuficiente”, justifica. O centro hospitalar está, portanto, a analisar a construção de uma nova área, com três novos gabinetes, que implicará um investimento de “cerca de 100 mil euros”.
“O Infarmed está a colaborar connosco, definindo os requisitos técnicos das instalações e dos equipamentos, para podermos responder à produçãod este tipo de medicamentos”, adianta Paulo Carinha. “Já contactámos empresas da área para que, face aos requisitos técnicos obrigatórios, nos elaborem propostas de forma que seja possível ter a nova ala pronta até final do ano”, acrescenta.
Em alternativa, está também a ser equacionada a hipótese de avançar com uma marca própria. Se a escala de produção for elevada, o Centro Hospitalar de S. João considera a possibilidade de “em vez de produzir em casa”, solicitar “a uma empresa nacional que já produz medicamentos que produza aqueles lotes. O custo/benefício está em cima da mesa”.
Em qualquer dos casos, a prioridade é assegurar que os pacientes recebem os cuidados de que precisam. “Faremos tudo o que possamos para satisfazer as necessidades terapêuticas dos doentes a um custo inferior ao que temos hoje”, conclui.
Notícia sugerida por Maria da Luz