por Dra. Maria João Simões da Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra
Muito se tem escrito sobre a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), o que ajuda na sua compreensão, evitando a estigmatização de crianças a nível escolar e social. Mas, por outro lado, tem-se contribuído para a generalização abusiva deste diagnóstico. Por uma criança ou adolescente ser agitada, impulsiva, irrequieta, distraída, ou até, como comumente se diz, “mal-educada”, não significa por si só que estamos perante este quadro clínico.
Muito embora possa ser considerada a perturbação neuro-comportamental mais comum na infância, com uma prevalência que varia entre 3 a 7%, sobretudo em rapazes, o diagnóstico apenas pode ser feito por profissionais especializados e com critérios científicos.
Mas para melhor se perceber o que é esta perturbação, destaquemos os seus sintomas típicos, que consistem num padrão persistente de falta de atenção e/ou comportamental caracterizado por um grau exagerado de atividade e impulsividade, sendo estes sintomas considerados desadequados na fase do desenvolvimento da criança/jovem pela sua intensidade e prejuízo significativo que acarreta no funcionamento e na vida escolar e relacional. Estes evidenciam-se mais frequentemente no contexto escolar ou noutras situações que exigem uma atenção persistente e um esforço mental mais prolongado, situações que não sejam tão apelativas, ou que impliquem regras e interações em grupo.
E como lidar com este problema durante as férias?
Com a chegada das férias de verão, e principalmente no mês de agosto, altura em que vários colégios, creches e grupos de ocupação de tempos livres estão encerrados, chegam os momentos de pânico para os “graúdos”, que precisam de pensar em formas de ocupar os dias dos seus filhos, de modo a que o seu período de descanso não se transforme num filme do género “um dia a casa vem abaixo”.
Com os dias menos estruturados e previsíveis, e é mesmo bom que assim seja, pois férias são férias, ficam algumas dicas para que os pais não ficarem à “beira de um ataque de nervos” e consigam aproveitar em sossego as suas merecidas férias:
- Como ponto de partida deverá clarificar as regras junto de todos os adultos que interagem com a criança. Não há nada pior que os adultos se desautorizarem à frente dos mais novos. Por exemplo, se é para todos fazerem as refeições juntos à mesa, não pode haver o adulto que permite o tabuleiro no sofá para se assistir à TV.
- Para interagir com uma criança com diagnóstico de PHDA é necessário que o adulto esteja bem consigo mesmo, tenha tranquilidade e segurança, bem como paciência e disponibilidade para ouvir, cuidar, conversar, e colocar limites de uma forma razoável. Cuide de si mesmo e faça por ter momentos que lhe deem alegria e prazer.
- Saia à rua, vá passear ao ar livre, andar de bicicleta, dar mergulhos na piscina, vá ao cinema ou ao teatro. Basicamente aproveite o bom tempo. Se preferir, fique em casa com os seus filhos a ver televisão, jogar os tradicionais jogos de tabuleiro, cozinhar ou a realizar pequenas tarefas domésticas. Evite envolvê-los em atividades que requeiram um esforço mental persistente.
- Dentro da confusão saudável dos dias de férias, é importante que exista uma rotina, pois perante a previsibilidade do ambiente, a criança saberá com o que contar, sentindo-se mais segura. Na manhã de cada dia, explique como prevê ser o dia e o que se espera de todos os que estão envolvidos.
- Quando propuser atividades, programe-as para terem curta duração, pois a criança terá dificuldade em manter a atenção em tarefas.
- Quando uma tarefa aparecer mal feita, tente explicar o que correu mal e onde se pode melhorar, pois não é de propósito que estas crianças não conseguem prestar atenção aos pormenores.
- Acompanhe-as de igual forma em algumas das tarefas e faça por estas serem divertidas, aproveitando o tempo para conversarem e falarem sobre interesses, preocupações, objetivos, pois são geralmente crianças muito sensíveis, inseguras e que dão pouco valor a si mesmas, pois já se sentiram rejeitadas e incompreendidas diversas vezes. Reforce o que o seu filho tem de bom e faça-o sentir-se seguro.
- É muito frequente parecer não ouvir quando lhe fala diretamente, como se tivesse o pensamento noutro assunto, mesmo na ausência de uma distração óbvia, o que vai dar origem à perda de objetos necessários, como óculos, brinquedos, chaves, etc. Não deixe de advertir, porém tente não fazer disso “uma tempestade num copo de água”.
- Tente colocar-se no papel da criança e, se tiver dúvidas, questione-a sobre “o queria dizer quando disse aquilo”, pois o que para si é evidente, para ela pode não ser.
- Tente não dar demasiada importância quando o seu filho fica demasiado frustrado, zangado, ou teimoso, sobretudo na adolescência. Geralmente, não conseguirá que o ouça nesse momento. Por isso espere por um momento mais oportuno em que esteja mais disponível para o ouvir.