No ano em que se celebra os 60 anos da descoberta da hélice do ADN, cientistas da Universidade de Cambridge, a mesma que identificou pela primeira vez o código genético, acabam de anunciar a descoberta de uma hélice quádrupla, no genoma humano, que pode ser responsável por certas doenças como o cancro.
Foi em 1953 que os investigadores da Universidade de Cambridge Francis Crick e James Watson publicaram o estudo que veio provar a existência, nos seres vivos, de um código genético em formato de hélice dupla.
Sessenta anos depois, investigadores da mesma universidade revelam que, além da hélice dupla, o ADN contém também estruturas compostas por quatro filamentos entrelaçados uns aos outros (as chamadas G-quadruplexes) que foram identificadas em células cancerígenas humanas, através de biomarcadores fluorescentes.
As moléculas de ADN (ácido desoxirribonucleico), que contêm toda a informação genética do ser humano e de outros seres vivos, estão codificadas numa sequência de quatro unidades químicas – abreviadas nas letras C, G, A e T – que formam a estrutura molecular dos cromossomas.
Os investigadores de Cambridge descobriram que, quando há uma proporção demasiado alta de guanina (a letra G), na estrutura, a hélice dupla desdobra-se em quatro.
O estudo – que é o culminar de 10 anos de investigação, foi publicado na edição de Janeiro do jornal 'Nature Chemistry' e foi financiado pelo instituto Cancer Research UK (Reino Unido) – prova que há uma relação direta entre a presença destas hélices quadruplas e o processo de replicação do ADN que é responsável pela divisão e reprodução de células cancerígenas.
Ao atingir estas estruturas quadruplexes com moléculas sintéticas que limitam a ação das mesmas impedindo estas células de replicarem o seu ADN e de se dividirem, os cientistas acreditam que será possível impedir a proliferação de células, um fenómeno responsável pela origem dos cancros.
“Percebemos que há ligação entre a ação de limitar a ação das quadruplexes com moléculas e a capacidade do organismo de impedir a divisão das células, o que é muito entusiasmante,” disse em comunicado o investigador Shankar Balasubramanian, do Departamento de Química e Investigação da Universidade de Cambridge, que participou na pesquisa liderada por Giulia Biffi.
“A nossa investigação indica que as quadruplexes ocorrem com mais frequência nas células cujos genes se estão a dividir mais rapidamente, como as células cancerígenas. Isto sugere um novo paradigma que tem de ser investigado: atingir as estruturas de hélice quádrupla para tratamentos mais personalizados”, acrescenta o investigador.
A maior parte dos cancros resulta de genes conhecidos como oncogenes que sofreram mutações de maneira a aumentar a sua capacidade de replicação do ADN, o que provoca uma proliferação descontrolada de células, situação que conduz ao aparecimento de tumores.
A descodificação do ADN de hélice dupla foi uma das maiores descobertas da ciência no século XX porque permitiu compreender como é que a informação genética é transmitida de geração em geração. O ADN de hélice quadrupla pode agora a ajudar a perceber de que maneira o nosso organismo reage contra si próprio, dando origem a determinadas doenças.
Clique AQUI para ler o comunicado da Universidade de Cambridge (em inglês).
[Notícia sugerida por Ana Teles]