Os jovens casais portugueses estão a abandonar as áreas metropolitanas e a regressar à cidade de Lisboa para viver, optando, cada vez mais, por reabilitar casas antigas.
Os jovens casais portugueses estão a abandonar as áreas metropolitanas e a regressar à cidade de Lisboa para viver, optando, cada vez mais, por reabilitar casas antigas. A conclusão é de um estudo recente desenvolvido por uma agência de publicidade nacional apresentado esta quinta-feira.
O estudo em causa debruçou-se sobre o potencial do mercado de renovação e incidiu, também, sobre os residentes da Grande Lisboa e sobre as suas principais motivações para realizar obras, tendo sido dado a conhecer durante uma sessão que contou, entre outros, com o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, e o vereador do urbanismo da autarquia, Manuel Salgado.
Em entrevista à Lusa, Vítor Tito, diretor-geral da agência de publicidade e marketing BBZ, responsável pelo estudo, afirmou que “[em Lisboa] aquilo a que estamos a assistir é a um regresso dos jovens casais”, frisando que as pessoas estão a deixar as zonas periféricas e “começam a valorizar o facto de poderem viver perto de onde trabalham”.
Além disso, acrescentou Vítor Tito, os novos habitantes de Lisboa parecem também estar a regressar à cidade por uma questão de custos, “porque viver na margem sul começa a ser relativamente caro – as portagens, o combustível, as deslocações… e a rede de transportes públicos não é solução”.
O diretor-geral da BBZ indicou ainda que esta tendência de regresso a Lisboa não está a ser acompanhada pela construção de casas novas, mas sim pela reabilitação de imóveis antigos: ou seja, os jovens casais optam por comprar uma casa por 50 ou 60 mil euros para a renovarem.
Zonas históricas são pouco procuradas
A propósito das zonas mais escolhidas pelas famílias que voltam a Lisboa, o representante da agência publicitária admitiu que “o conceito de reabilitação urbana relacionada com as zonas históricas desapareceu” e que os bairros mais procurados, onde “há um número significativo de habilitações devolutas”, são Campolide, Campo de Ourique e as Avenidas Novas.
Das 800 pessoas de todo o país inquiridas no âmbito deste estudo, 47% afirmaram ter intenções de fazer obras em casa. Das cerca de 1.000 outras pessoas com propensão para a renovação inseridas em quatro 'focus group', a maioria indicou que as áreas da casa que mais querem renovar são a cozinha, a casa de banho e a sala.
“Há um fenómeno que chamamos 'cocooning', ou seja, numa altura de crise, as pessoas vivem muito mais dentro de casa, [pelo que] se reduzem o número de refeições que fazemos fora de casa, e muitas vezes substituímos o jantar fora com os amigos por um jantar feito em casa” com os mesmos, justificou Vítor Tito, salientando que as áreas privadas da casa são vistas como “uma segunda prioridade”.
De acordo com o que foi determinado pelo estudo, o concelho que dispõe, atualmente, de mais habitações com condições para serem renovadas é Santarém, seguido de Setúbal e só depois dos concelhos da Grande Lisboa.
Contudo, o diretor-geral da BBZ assinalou que continuam a existir problemas ao nível do processo de renovação, como “um distanciamento efetivo entre os arquitetos e os consumidores” e os “custos financeiros” das obras.
Autarquia lisboeta apoia realização de obras em casa
Para solucionar as dificuldades que estas renovações podem trazer, bem como outras questões, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) criou o programa RE9, que apresenta benefícios fiscais para os moradores que pretendam fazer obras em casa, além de acordos com a Ordem dos Arquitetos e com o Banco Montepio, entre outras entidades, para as financiar.
Manuel Salgado, vereador do urbanismo da CML, explicou à Lusa que este programa permite “fazer pequenas intervenções no município”, criando, deste modo, um movimento com o objetivo de “tornar a reabilitação mais atrativa” e, ao mesmo tempo, levar a que cada vez mais pessoas se fixem na cidade, onde residem, atualmente, 500 mil pessoas.
O autarca afirmou que Lisboa se tem “despovoado” e assumiu que ainda “há pessoas que vivem em casas em mau estado”, assegurando que quer inverter esta tendência para que a cidade se torne “mais viva e mais sustentável”.
Notícia sugerida por Elsa Fonseca