Ciência

Gulbenkian: Estudo dá novas pistas contra tumores

Um novo estudo desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) acaba de permitir a descoberta do mecanismo pelo qual a atividade de uma molécula é implicada num grande número de tumores humanos - é limitada pelo esqueleto da célula.
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Um novo estudo desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia acaba de permitir a descoberta do mecanismo pelo qual a atividade de uma molécula – a Src, implicada num grande número de tumores humanos – é limitada pelo esqueleto da célula. O avanço poderá ajudar a limitar o desenvolvimento tumoral.
 
Florence Janody, que coordenou o estudo, e os seus colegas, utilizaram como modelo a mosca da fruta, Drosophila melanogaster, e conseguiram travar, com sucesso, o desenvolvimento de tumores induzido pela atividade de Src, através da manipulação genética do citoesqueleto (o esqueleto da célula) neste organismo. 
 
Atualmente, ainda não é clara a forma como as células saudáveis são capazes de travar a ação da Src, que faz parte do grupo dos oncogenes, classe de genes que codificam proteínas cuja atividade favorece o desenvolvimento de tumores. 
 
Um dos principais componentes do citoesqueleto – a actina – forma uma espécie de cabos que constituem uma rede por onde as moléculas se movimentam dentro da célula, cabos estes que estão em constante “afinação”: as suas extremidades crescem e encolhem por adição ou remoção de componentes através da ação de proteínas, as “actin-capping”, que regulam o processo.
 
Agora, o grupo coordenado por Janody mostrou que o desenvolvimento tumoral é bloqueado quando existem elevados níveis deste “afinador”, ou seja, das proteínas actin-capping, restrigindo-se a atuação de proteínas que são, por norma, ativadas por grandes quantidades da molécula Src.


A) Crescimento excessivo de tecido no disco da asa da larva da mosca da fruta (tecido que origina a asa na mosca adulta) devido à presença de níveis elevados da atividade de Src;  B) Este crescimento é moderado devido a uma maior expressão do “afinador” actin-capping protein. 

Citoesqueleto funciona como “arame farpado”
 

De acordo com um comunicado do IGC, apesar de o mecanismo molecular preciso ainda não ser conhecido, a hipótese levantada pelos investigadores é a de que o “afinador” cria uma tensão nos cabos do citoesqueleto que impede a ação destas proteínas. 
 
Pelo contrário, quando os níveis de actin-capping estão diminuídos, a atividade do oncogene Src aumenta e, se o citoesqueleto não conseguir controlá-la, o desenvolvimento de tumores acontece.
 
“É como se o citoesqueleto funcionasse como uma rede de 'arame farpado'. O vencedor da competição entre as moléculas do citoesqueleto e o oncogene Src, que luta contra o 'arame farpado', irá determinar se a célula se manterá saudável ou se tornará cancerígena”, esclarece Florence Janody. 
 
Segundo Beatriz García Fernández e Barbara Jezowska, primeiras autoras do trabalho publicado na última edição da revista Oncogene, este estudo “sugere que o aparecimento de mutações em moléculas que regulam o citoesqueleto podem ter um papel significativo na indução do desenvolvimento do cancro durante os primeiros estádios da doença, por permitirem a libertação da atividade destes oncogenes”. 
 
O Src foi o primeiro oncogene a ser descoberto, na década de 1950, como sendo capaz de induzir o cancro. A importância desta descoberta foi reconhecida com o Prémio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1989.   

Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo (em inglês).

Notícia sugerida por Raquel Baêta e Lídia Dinis

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