Falar com a barriga durante a gravidez pode beneficiar o cérebro do bebé depois do nascimento, contribuindo para melhorar, a longo prazo, as suas competências ao nível da linguagem.
Falar com a barriga durante a gravidez pode beneficiar o cérebro do bebé depois do nascimento, contribuindo para melhorar, a longo prazo, as suas competências ao nível da linguagem. A conclusão é de um novo estudo norte-americano, que destaca a importância da voz das mães desde o início do desenvolvimento.
Ouvir a voz da progenitora é uma das primeiras experiências sensoriais tidas pelos bebés quando estão a crescer dentro do útero e, embora os cientistas já soubessem que o feto é capaz de sentir o batimento cardíaco materno e de escutar as palavras da mãe, só agora o papel destas palavras no seu futuro desenvolvimento começou a ser desvendado.
Através de uma investigação realizada com bebés prematuros e publicada, este mês, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), cientistas da Harvard Medical School, nos EUA, concluíram que o som da voz da mãe tem uma influência fundamental no desenvolvimento da linguagem e da audição dos bebés.
Segundo a equipa, coordenada pela investigadora Amir Lahav, a voz materna pode estar diretamente associada ao desenvolvimento do córtex auditivo, a parte do cérebro que processa a linguagem, o que pode explicar por que razão os bebés conseguem reconhecer certas palavras e sons logo desde que nascem.
Ouvir a voz materna ajuda a desenvolver o córtex auditivo
Os cientistas analisaram 40 bebés prematuros, todos nascidos entre as 25 e as 32 semanas de gravidez (fase em que ainda deveriam estar no útero em condições normais), que foram divididos em dois grupos.
Os do primeiro grupo ouviram, durante um mês, três horas de gravações da voz da mãe por dia, ao passo que os restantes ouviram apenas os sons de fundo do hospital. Depois de 30 dias, os investigadores examinaram o cérebro de todos os bebés com recurso a ecografias e observaram que os que tinham ouvido a voz da mãe tinham um córtex auditivo significativamente mais evoluído.
“Demonstrámos que o córtex auditivo é mais adaptável em resposta a sons maternais idênticos aos que se ouvem no útero do que ao ruído ambiental”, escreveram os autores do estudo na PNAS, acrescentando que “os resultados são apoiados pelo facto biológico de que estes sons estariam presentes no útero caso os bebés não tivessem nascido prematuramente”.
Os investigadores sugerem, portanto, que a exposição à voz da mãe “pode proporcionar aos recém-nascidos a elasticidade auditiva de que necessitam para dar forma ao cérebro com vista ao desenvolvimento da audição e da linguagem”, recomendando que as mães falem com os bebés ou cantem para eles enquanto ainda estão na barriga.
Além disso, a equipa acredita que o recurso a gravações das vozes das mães poderá também ser uma ferramenta útil para ajudar ao desenvolvimento de bebés prematuros, em especial quando estes são obrigados a ficar internados em unidades de cuidados intensivos durante as primeiras semanas de vida e, consequentemente, privados do contacto maternal.
Clique AQUI para aceder ao estudo (em inglês).