O nome de Jamie Oliver é quase incontornável entre os apreciadores de cozinha de todo o mundo. O que a maioria não sabe é, porém, que as tábuas de madeira utilizadas pelo "chef" britânico são fabricadas numa pequena vila portuguesa.
O nome de Jamie Oliver é quase incontornável entre os apreciadores de cozinha de todo o mundo. O que a maioria não sabe é, porém, que as tábuas de madeira utilizadas pelo “chef” britânico – tanto para cortar os alimentos como para servir os seus pratos – são fabricadas em Portugal, mais precisamente na pequena vila de Pernes, distrito de Santarém, pelas mãos experientes dos funcionários da Gradirripas, uma microempresa portuguesa que está a trilhar, a bom ritmo, o caminho do sucesso.
por Catarina Ferreira
Foi em 2006 que Raúl Violante, um dos atuais proprietários da Gradirripas, decidiu resgatar o saber de uma família que, há já dois séculos, se encontrava tradicionalmente ligada à produção de artigos em madeira, inspirado pelo trabalho de Manuel dos Santos Violante, um dos seus antepassados que, em finais do século XIX, “trabalhava este material como uma verdadeira arte”.
Desde essa data que os 10 colaboradores da empresa – sete dos quais estavam desempregados há vários anos e foram escolhidos com base na sua “grande experiência no setor da indústria de torneados de madeira”, ganhando uma nova oportunidade – se dedicam ao fabrico de caixas em madeira para vinhos e produtos gourmet, artigos em madeira para cozinha e pequeno mobiliário.
O que o empresário português não imaginava era que este negócio poderia ultrapassar as fronteiras nacionais e chegar mais longe, mais especificamente até Inglaterra. Depois de um contacto com um importador britânico, a Gradirripas começou a fabricar tábuas de cozinha em madeira exclusivas para o célebre cozinheiro Jamie Oliver que as utiliza nos seus programas e restaurantes e as vende na loja oficial do seu site na Internet, que pode ser visitada
AQUI.
Naquela loja online, as tábuas são vendidas com o selo exclusivo “Jamie's Italian” – a linha de restaurantes a elas associada -, mas, no próprio site, é possível ficar a conhecer a origem do produto, devidamente identificada: Portugal.
“A oportunidade surgiu através de um importador inglês, que nos trouxe algumas ideias. Em colaboração com ele chegámos aos modelos finais – oito modelos diferentes em diversas dimensões e para variados fins – que foram aceites pelo Jamie Oliver”, conta Raúl Violante em entrevista ao Boas Notícias.
Segundo o responsável, “o sucesso das tábuas de madeira deve-se essencialmente ao sucesso do grande chefe de cozinha que é Jamie Oliver”, em particular no mercado inglês, onde se nota “um acréscimo de interesse por produtos em madeira, especialmente tábuas de cozinha, que quase tinham desaparecido dos lares e que, em Portugal, foram praticamente abolidas”.
Porém, este sucesso não é alheio à qualidade das tábuas portuguesas, que utilizam madeira proveniente, na sua maioria, dos pinhais da região centro de Portugal e que, garante Raúl Violante, é “adquirida a produtores que asseguram a sustentabilidade das florestas”, substituindo as árvores abatidas por novas plantações.
Além disso, a madeira que serve de matéria-prima a estas tábuas – e a todo o tipo de objetos fabricados pelos trabalhadores da Gradirripas – “é sujeita a secagem em estufa, onde permanece o tempo necessário para garantir um produto de qualidade, isento de humidades e do vírus do nemátodo do pinheiro, que tem atingido as florestas portuguesas”.
Vendas para Inglaterra representam 80% da faturação mensal
Em 2011, esta microempresa nacional faturou cerca de 100.000 euros, destinados quase exclusivamente ao mercado nacional (onde aposta noutro tipo de produtos em madeira) mas, no ano seguinte, com o início das exportações para Inglaterra, que arrancou em finais de Setembro de 2012, a faturação aumentou para 200.000 euros, “o que significou um acréscimo de 100%”, salienta Raúl Violante.
Hoje em dia, as vendas para o estrangeiro representam “cerca de 80% da faturação mensal” da Gradirripas. Para já, o único mercado é o inglês, mas o empresário desvenda que há “a possibilidade de iniciar exportações” para outros locais do mundo.”Estamos neste momento com contactos, pedidos de preços e de amostras para diversos países, nomeadamente Suécia, Alemanha, Canadá e México”, adianta Raúl Violante ao Boas Notícias.
Jamie Oliver usa, habitualmente, as tábuas portuguesas (entre elas o modelo da foto acima) para apresentar as suas receitas sobre a mesa
Em Portugal, a empresa continua a focar-se, essencialmente, na venda dos produtos que já comercializava no passado, mas vai agora dar início à venda das tábuas de cozinha. “Para já demos início da venda ao público de tábuas muito semelhantes às do Jamie Oliver – uma vez que estas são em exclusivo para Inglaterra – num estabelecimento de papelaria na vila de Pernes”, revela.
A Gradirripas vai também “iniciar em breve a possibilidade de venda através da Internet” e encontra-se, atualmente, “a fornecer estabelecimentos na área da restauração” que têm contactado Raúl Violante no sentido de adquirir tábuas de madeira para as suas cozinhas.
O sucesso desta empresa tem também beneficiado a comunidade envolvente, nomeadamente o tecido económico de Pernes, acredita Raúl Violante, em especial num momento em que o desemprego continua a aumentar.
“Numa vila pequena como Pernes, onde o nível de desemprego é elevado, e tendo em conta que todos os colaboradores são residentes na freguesia, consideramos que a Gradirripas pode estar de facto a dar um pequeno contributo para a dinamização da economia local”, sublinha.
“Caso se venha a verificar a concretização de novos clientes e com novas encomendas”, Raúl Violante admite mesmo “criar novos postos de trabalho” para dar resposta a um eventual acréscimo de produção que poderá resultar dos contactos que está, neste momento, a estabelecer.
Notícia sugerida por Raquel Baêta, Ana Oliveira e Patrícia Guedes
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