Há quem lhe chame espelho da alma, mas o sorriso é hoje um verdadeiro cartão-de-visita, capaz de abrir portas na vida pessoal e profissional. Ainda que, de uma forma geral, os portugueses estejam mais conscientes da importância de um sorriso bonito, reflexo de uma saúde oral que se quer cuidada, João Paulo Tondela, médico dentista do grupo Best Quality Dental Centers (BQDC), salienta que “27% dos portugueses nunca visitaram esta especialidade ou o fizeram apenas em urgência e 41,3% e não o fazem há mais de um ano”.
A propósito do Dia Mundial do Sorriso, que se assinala no próximo dia 5, o especialista considera que “a saúde oral dos portugueses tem melhorado”. Mas teme pelo futuro. “Apenas 32% da população apresentava dentição completa em 2017 e, se considerarmos que 60% das crianças com seis anos nunca consultou o médico dentista, o futuro não deverá trazer uma realidade muito diferente”.
A ausência de cuidados é, de resto, bem visível e com consequências. “Atualmente, 68% da população tem falta de dentes e 30% destes têm falta de seis ou mais dentes, o que se traduz numa diminuição significativa da qualidade da mastigação”, explica o médico. “Apenas cerca de metade destes desdentados procurou reabilitação (tratamento de substituição dos dentes ausentes) e apenas 6,7% o fizeram com recurso a tratamentos fixos, que permitem atingir uma capacidade mastigatória semelhante à dentição natural. Isto quer dizer que 11% da população portuguesa vive com uma diminuição efetiva da qualidade mastigatória e que 50% apresenta um compromisso mastigatório mais ou menos satisfatoriamente compensado.”
Mas os reflexos dos maus cuidados não se ficam por aqui. De acordo com o especialista, “há uma relação entre algumas patologias sistémicas e a saúde oral, entre a diabetes e a doença periodontal, mas também um aumento do risco em pacientes com patologia cardiovascular e com compromisso da saúde oral”.
A isto juntam-se as alterações nutricionais, uma vez que uma má saúde oral pode “induzir alteração de hábitos alimentares, como aumento da ingestão de dietas moles e açucaradas e consequente risco de obesidade. Para além disso o sistema estomatognático (complexo-oro-facial) participa ativamente na fonação e encontra-se no centro da expressão facial, sendo por isso determinante na comunicação e no relacionamento interpessoal. A boca, os dentes (o sistema estomatognático) não se encontra fora do corpo humano!”
De resto, tendo em conta a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde, que inclui o bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo, “é óbvio que uma boa saúde oral é também reflexo e reflete uma boa saúde”. Por isso, não só o sorriso “traduz um estado anímico positivo, de confiança e otimismo, como também estimula o bem-estar, ao induzir alterações endócrinas. Sorrir é bom e sorrir faz bem!”, refere João Paulo Tondela.
O que justifica o aumento da procura de tratamentos estéticos. Mas, aqui, o especialista deixa um alerta: “a recuperação funcional e estética do sorriso é apenas o primeiro passo de uma caminhada que os pacientes devem compreender desde o início: nada poderá ser feito, alcançado ou mantido sem o seu compromisso e empenho”.
O que significa que a aposta não pode ser apenas no lado da cosmética. “Com os tratamentos cosméticos há a possibilidade de apenas camuflar o problema, mantendo o compromisso funcional muitas vezes subjacente e que mais tarde sobressairá”. Por isso, o médico dentista chama a atenção para “tratamentos aparentemente fáceis e pouco invasivos, como alguns tratamentos protéticos, que garantem resultados rápidos e imediatos, mas assentam apenas no tratamento da parte estética visível com recurso a técnicas irreversíveis para a estrutura dentária”.
A receita para um sorriso bonito e saudável continua a ser a mesma: a prevenção. “Um sorriso bonito adquire-se e começa a preservar-se em criança e com corretos tratamentos de manutenção, de ortodoncia intercetiva e corretiva. Os tratamentos restauradores e reabilitadores protéticos (reparação e substituição de dentes) a ocorrer em idade adulta devem merecer o mesmo empenho e dedicação, com o foco centrado na motivação e instrução de uma correta e eficaz higiene oral”. E, claro, “as visitas regulares ao médico dentista são essenciais para adquirir e preservar estes sorrisos… temos que semear para colher, mas quem semeia ventos colhe tempestades”.