por Patrícia Maia
Podemos não conhecer a menina que sopra as velas de aniversário. Podemos nunca ter visto a jovem noiva que posa para o fotógrafo numa sala modesta. Podemos não saber nada desta gente. Mas mesmo assim sentimos carinho por elas.
Seduzido pelas memórias que estas fotografias guardam, o coletivo artístico espanhol Left Hand Rotation (com residência atual em Lisboa) tem vindo a ‘respigar’, desde 2011, fotos que vão parar aos caixotes de lixo da feira da Ladra.
“Explicaram-nos que às vezes aparecem fotografias nas gavetas de móveis que vão ser vendidos”, conta um dos membros do coletivo ao Boas Notícias, explicando que esta será essa uma das razões que leva as pessoas a deitarem estas imagens fora.
O grupo batizou este projeto de “Álbum Lixo”. Além das memórias, esta recolha dá especial importância “às fotografias como objetos”: “É muito importante o objeto em si, especialmente nesta era digital em que vivemos”.
Já com mais de 2.000 imagens, a coleção continua a crescer. Há algumas semanas, o grupo começou a colocar estes momentos fotográficos no site do coletivo, onde as fotografias estão organizadas de acordo com várias categorias – como o tema do registo (se é uma celebração, uma paisagem ou um retrato) ou o estado da fotografia (se está rasgada, amarrotada, bem conservada).
Até agora, ainda ninguém reclamou nem reconheceu as pessoas das imagens. Mas os membros do Left Hand Rotation salientam que “a ideia é devolver as fotografias se alguém se reconhecer numa imagem e a quiser recuperar”.
No dia 30 de Outubro, uma seleção destas fotografias “do lixo” vai estar em exibição na Pickpocket Gallery (http://pickpocketgallery.com/), um espaço junto à Feira da Ladra, em Lisboa. Aí será possível observar de perto estas memórias que agora se recuperam e, quem sabe, reconhecer algum daqueles rostos.