“A Islândia alcançou importantes conquistas desde a crise”, disse esta semana Daria V. Zakharova, chefe da missão do FMI na Islândia, numa entrevista à Bloomberg. “Temos uma visão muito positiva do crescimento [do país], sobretudo para este ano e para o próximo, porque nos parece que é um crescimento sustentável”.
“Considerando a profundidade da crise no final de 2008, a recuperação do país é impressionante”, admite a responsável do FMI. “O facto da Islândia ter preservado o sistema social”, apesar dos desafios económicos, é apontado por Zakharova como “a maior conquista” do governo do país.
Depois de declarada a bancarrota em 2008, na sequência da falência dos três principais bancos do país, a Islândia recusou proteger os credores dos bancos cujas dívidas eram 10 vezes superiores a economia islandesa. O povo saiu à rua [na foto] em diversas manifestações recusando assumir a dívida dos bancos.
A questão acabou por ir a referendo, em 2010, e mais uma vez a população assumiu um não redondo com mais de 90 por cento dos votos. A votação causou o pânico das instituições internacionais que reagiram com ameaças, mas o governo acatou a opinião popular.
Entretanto, os responsáveis pelo colapso financeiro dos bancos estão a ser investigados. Sigurdur Einarsson, o ex-presidente do Kaupthing, um dos três grandes bancos que detonaram a crise, tem mesmo um mandato de captura em seu nome, emitido pela Interpol, por suspeitas de fraude e falsificação.
A 'maneira islandesa' vs outros países europeus
Embora tenha recusado a dívida dos bancos, o governo islandês teve que tomar medidas pragmáticas para travar a “hemorragia” da economia. Além de aceitar a ajuda do FMI, a Islândia impôs no país o controlo de capitais, que proíbe as empresas islandesas de investirem no exterior, ao mesmo tempo que impede os estrangeiros de retirarem o seu dinheiro do país.
Isso permitiu que o governo protegesse as famílias e as pequenas empresas. Foi uma solução de emergência crucial mas os analistas admitem que o maior desafio, nos próximos tempos, será pôr fim a este controlo de capitais sem prejudicar a economia.
Mas por enquanto, a 'maneira islandesa' de lidar com a crise parece resultar. Quatro anos depois da bancarrota, a previsão do FMI para o crescimento da economia, em 2012, é de 2,4 por cento, quando a Zona Euro prevê uma quebra de 0,3%. Por outro lado, a taxa de desemprego desceu para 4,8% (há dois anos era de 9,3%). Outra prova de recuperação surgiu em Março deste ano, altura em que o país pagou, antecipadamente, um parte do empréstimo do FMI que só deveria ser saldada em 2013.
Muitos analistas reagem a esta recuperação com pessimismo, defendendo que a surpreendente reviravolta do país não pode ser apontada como exemplo, uma vez que as lições da recuperação islandesa – com menos de 350 mil habitantes – não são aplicáveis a economias mais complexas.
No entanto, o caminho seguido por outros países europeus como Portugal, a Grécia e Espanha, que têm apostado em duras medidas de austeridade – aumento de impostos, cortes nas reformas e nos salários, privatizações em massa – não tem sido fácil. Nestes países, prevalece a escalada do desemprego e a quebra do nível de vida e do bem-estar social, mas a saída da crise parece ainda longe.
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