O filme “Peregrinação”, do realizador João Botelho (“A Corte do Norte”, “Filme do Desassossego”, “Os Maias”) e produzido por Alexandre Oliveira da Ar de Filmes, foi eleito pela Academia Portuguesa de Cinema para representar Portugal na edição de 2019 dos Goya e dos Óscares, que se realizam, respetivamente, a 2 e a 24 de fevereiro.
“Peregrinação”, que estreou em Portugal a 1 de novembro de 2017 e foi distribuído pela NOS Audiovisuais, é a adaptação ao grande ecrã do primeiro best-seller português, “A Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto. Editado 30 anos após a sua morte, em 1614, a obra épica relata a aventura do navegador português que partiu em 1537 para a Índia e percorreu os confins da Ásia ao longo de mais de duas décadas.
O filme conta com um elenco recheado de nomes nacionais e internacionais. Cláudio da Silva interpreta duas personagens, a do protagonista, Fernão Mendes Pinto, e a de António Silva, e é acompanhado por nomes como Cassiano Carneiro, Pedro Inês, Catarina Wallenstein, José Neto, Maya Booth, Pedro Lacerda, Jani Zhao e Zia Soares, entre muitos outros.
Filmado “em 14 semanas intensas”, no verão de 2016 (China, Japão, Índia, Malásia e Vietname ) e na primavera de 2017 (Lisboa, Sintra, Vila do Conde, Tomar e Sesimbra), “o filme deve muito à fotografia do Luís Branquinho, que é quase pintura, mas distante, como tinha de ser, daquele estilo à Caravaggio de outros filmes meus, e ao guarda-roupa da Sílvia Grabowski, que me deu sugestões preciosas e fez roupa que eu não imaginaria”, explicou João Botelho.
“Peregrinação”
“Em março de 1537, aos 26 ou 28 anos, Fernão Mendes Pinto, fugindo à miséria e estreiteza da sua vida, partiu para a Índia em busca de fama e fortuna”. Assim, no meio de uma terrível tempestade, começa este filme, que relata os sucessos e as desventuras deste escritor aventureiro que, no decurso de 21 anos em que esteve no Oriente, foi “13 vezes cativo e 16 ou 17 vendido”. Mas, em vez da fortuna que pretendia, foram-lhe crescendo os trabalhos e os perigos. Aventureiro sim, mas também peregrino, penitente, embaixador, soldado, traficante e escravo, Fernão Mendes Pinto foi tudo e em toda a parte esteve. “Por extraordinária graça de Deus” regressou salvo para nos deixar um extraordinário livro de viagens, numa escrita hábil e fulgurante, carnal e violenta, terra-celeste. Esse livro de viagens, editado três dezenas de anos após a sua morte, transformou-se no primeiro best-seller da língua portuguesa, sendo traduzido e publicado em todos os reinos da Europa. A PEREGRINAÇÃO, agora em filme, narra pedaços dessa observação aguda, exacerbada, exagerada que, na sua fascinante pressa de contar, aquele aventureiro dos sete mares deixou aos portugueses. Desventuras sim (“cada ação tem uma paga, cada pecado um castigo”) mas também sucessos: o cometimento e a grandeza das descobertas ou “achamentos” de outras terras e de outras gentes, no século de oiro da História de Portugal.
João Botelho, o realizador, frequentou a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Foi dirigente do CITAC – Circuitos Internos de Televisão e Antenas Colectivas. Integrou os cineclubes de Coimbra e do Porto. Foi professor na Escola Técnica de Matosinhos, ilustrador de livros infantis e profissional de artes gráficas a partir de 1970. Frequentou a Escola de Cinema do Conservatório Nacional. Foi crítico de cinema em jornais e revistas e fundou a revista de cinema M. Iniciou-se na realização com duas curtas-metragens para a RTP e o documentário de longa-metragem “Os Bonecos de Santo Aleixo” para a cooperativa Paz dos Reis. Teve filmes premiados nos festivais da Figueira da Foz, Antuérpia, Rio de Janeiro, Veneza, Berlim, Salsomaggiore, Pesaro, Belfort, Cartagena e Varna, entre outros. Foi distinguido duas vezes com o prémio da OCIC, da Casa da Imprensa e dos Sete de Ouro. Todas as suas longas-metragens tiveram exibição comercial em Portugal, quase todas em França e algumas em Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Japão. Foram exibidas retrospectivas integrais da sua obra em Bergamo (1996), em La Rochelle, com edição de uma monografia (1998) e na Cinemateca de Luxemburgo (2002). Foi distinguido com a Comenda de mérito cultural da Ordem do Infante.