Um fármaco amplamente utilizado para tratar pacientes com cancro mostrou ser capaz de inverter a doença de Alzheimer em ratos, anunciaram investigadores dos EUA.
Um fármaco amplamente utilizado para tratar pacientes com cancro mostrou ser capaz de inverter a doença de Alzheimer em ratos. O anúncio foi feito esta quinta-feira por investigadores norte-americanos, que acreditam que a descoberta pode abrir horizontes na luta contra este mal degenerativo.
A droga, conhecida como bexaroteno, atua aumentando os níveis de uma proteína presente no cérebro que ajuda a limpar as placas amilóides, depósitos de proteína que bloqueiam e matam os neurónios.
“Quando somos jovens e saudáveis conseguimos livrar-nos destas placas de uma forma natural, partindo-as em fragmentos e acabando por limpá-las totalmente. À medida que envelhecemos, muitos de nós perdem a capacidade de o fazer com eficácia”, explicou o coordenador dos estudos, Gary Landreth, à AFP.
“Este facto está associado ao declínio mental e às dificuldades cognitivas”, acrescentou Landreth, que é também professor no departamento de neurociências da Case Western Reserve University School of Medicine, no estado do Ohio.
A investigação consistiu em administrar bexaroteno a ratos e os resultados foram animadores. Segundo as conclusões do estudo, publicadas na Science, os animais mostraram, rapidamente, sinais de maior esperteza e as placas amilóides começaram a desaparecer em poucas horas.
“Ficámos chocados e maravilhados. Uma coisa como esta nunca foi vista até hoje”, salientou o especialista norte-americano.
Apenas um curto espaço de tempo após a administração da droga, os ratos exibiram melhores resultados nos testes a que foram submetidos. Além disso, mostraram-se mais sociáveis, capazes de relembrar coisas que tinham esquecido e reaqduiriram o olfato, sentido que, por norma, é perdido pelos doentes. Os efeitos positivos prolongaram-se por mais de três dias.
Descoberta causou entusiasmo mas exige cautela
Os especialistas envolvidos na investigação admitem que, caso a droga mostre efeitos em humanos, deverá ser mais útil em fases pouco avançadas da doença de Alzheimer. Porém, os ensaios clínicos ainda estão a ser preparados e deverão ter início no próximo mês.
As reações à descoberta não se fizeram esperar e os resultados dos testes estão a ser acolhidos com entusiasmo mas também com a cautela necessária.
Scott Turner, diretor do Georgetown University Medical Center's Memory Disorders Program, deu as boas-vindas a estas conclusões. “É muito entusiasmante”, afirmou, citado pela AFP, frisando que esta é “uma nova forma de avançar” em relação a uma possível cura para a doença.
No entanto, o neurologista fez questão de alertar igualmente para um eventual obstáculo.
“Os ratos podem não ser um bom modelo de doença de Alzheimer. Há muitas terapias que resultam em ratos e falham completamente em humanos”, pelo que terão ainda de ser desenvolvidos estudos mais aprofundados, relembrou.