Com cinco por cento de visão num olho e um por cento no outro, Ana Sofia perdeu grande parte da visão durante a adolescência, quando esforçava a vista a estudar.
Em 2008 chegou à Universidade de Aveiro (UA) para estudar Psicologia, após ter lutado pelo seu sonho de entrar numa faculdade. “À medida que fui crescendo, que me fui conhecendo melhor, aprendi a aceitar a minha limitação visual, a aprender a lidar com as dificuldades e a olhar-me como um ser muito especial”, conta Ana Sofia, citada por um comunicado enviado ao Boas Notícias.
A jovem reconhece que o caminho não foi fácil, mas “com o apoio incansável das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, com as quais cresci desde os meus quatro anos de idade na Casa da Sagrada Família da Guarda, e com uma grande força de vontade (…) consegui ultrapassar aos poucos os obstáculos que a vida me apresentava e ainda a transformar os problemas oportunidades”.
Para além do mestrado, Ana Sofia ainda teve a oportunidade de realizar um estágio curricular, entre Agosto e Novembro de 2014, o que, para a estudante, “foi quase como ir para além do impossível”. O esforço e dedicação valeu-lhe um 20 na tese e um 17 na nota final do mestrado.
“Tive de abdicar de muitas coisas e ter mesmo muita força de vontade”, salienta. Para a tese, a jovem entrevistou cerca de 208 pessoas com deficiência visual em todo o país, de forma a estudar o sofrimento emocional nesta população.
Existem poucos estudos sobre o tema
O estudo mostrou essencialmente que as pessoas que apresentam mais sofrimento emocional são “as que têm deficiência adquirida, as solteiras e as que percecionam que a deficiência visual interfere negativamente na sua vida”, acrescenta a estudante.
Em Portugal, bem como no resto do mundo, não existem praticamente quaisquer informação ou estudos relacionados com este tema, o que a psicóloga justifica com a “pouca sensiblização da comunidade científica” para se debruçar sobre esta área.
Ana Sofia agradece ainda à UA, que tem como premissa a inclusão e a oferta de soluções adaptadas aos estudantes com deficiência. Só neste ano letivo estão matriculados nesta instituição de ensino cerca de 60 alunos com necessidades educativas especiais.