Os investigadores querem alterar o sistema de tráfego e acabar com os tradicionais sinais de trânsito, propondo um sistema inteligente de comunicação entre veículos.
As estradas do futuro poderão oferecer tempos de viagem mais curtos, menos poluição e uma menor sinistralidade. Tudo graças a um sistema inteligente de comunicação entre veículos que promete acabar com os tradicionais semáforos e que está a ser desenvolvido por universidades de Portugal e dos EUA.
por Márcia Moço
A Universidade do Porto (UP), em conjunto com a Carnegie Mellon University, apresenta os “Virtual Traffic Lights”, semáforos integrados dentro de cada veículo que mudam entre o verde e o vermelho consoante o trânsito da interceção a que se dirige.
Este novo mecanismo de sinalização permitirá ao condutor usufruir ao máximo o seu tempo, evitando que os condutores fiquem parado nos sinais em situações onde não existe movimento de tráfego e, assim, reduzir o tempo e o tamanho das filas de trânsito.
Hugo Conceição, um dos principais investigadores do projeto que está a desenvolver um doutoramento dual entre a Carnegie Mellon University e a UP, explica ao Boas Notícias que o principal benefício é a poupança de tempo mas salienta que o sistema também ajuda a reduzir os níveis de poluição já que “a viagem casa-trabalho, trabalho-casa, pode ser encurtada em valores muito significativos”.
O semáforo integrado que é mostrado ao condutor depende do estado do trânsito no momento. “Se for o único carro a aproximar-se na intersecção é concedida a passagem imediata. Se, no entanto, outros carros se estiverem a aproximar da mesma intersecção, o condutor é alertado”, explica o investigador.
“Virtual Traffic Lights” testados na cidade do Porto
Os “Virtual Traffic Lights” já foram testados, entre Setembro e Dezembro de 2009, na cidade do Porto, através de um simulador de larga escala desenvolvido pelos professor Luís Damas e pelo investigador Ricardo Fernandes da UP.
“Com informação geográfica fornecida pela Câmara Municipal do Porto foi possível simular o trânsito na rede rodoviária da cidade, e comparar as duas soluções para o controlo de tráfego: os habituais semáforos, e a nossa solução”, conta Hugo Conceição.
O número de veículos simulados corresponde aos valores médios da hora de ponta da manhã, dados fornecidos pela autarquia que correspondem a cerca de 130 mil carros ao longo de um período de duas horas.
Viagem de 60 minutos reduzida para 24 minutos
Hugo Conceição refere que “os resultados iniciais foram muito bons, com benefícios superiores a 60%”. Uma viagem que normalmente dura 60 minutos, passaria a demorar cerca de 24 minutos, mais de metade do tempo despendido. “Há uma óbvia margem de erro neste tipo de estudos, mas os resultados são promissores”, defende.
O investigador salienta que “poderá ser necessária uma fase de habituação”, mas relembra que “a história está repleta de situações em que foram introduzidas alterações importantes nas regras de condução” que ocorreram “sem problemas de maior”.
“Na sua essência, a nossa aplicação é traduzida numa alteração muito simples: em vez de o condutor ter de olhar para um semáforo colocado na intersecção, o sinal passa a ser mostrado dentro do veículo. Neste sentido, esperamos uma adaptação rápida e fácil”, sublinha.
Hugo Conceição acredita que “não faltará muito tempo” para que o sistema se torne realidade e considera que esta “é a altura indicada para apostar nestas tecnologias”, tendo em conta que há uma aposta cada vez maior em métodos de controlo e otimização de tráfego, sobretudo nos EUA.
O projeto, que deverá estar concluído em 2015, encontra-se em fase de delineação de um protocolo que garanta a segurança do sistema em qualquer situação, incluindo ao nível dos peões. “Os benefícios só farão sentido se conseguirmos garantir este ponto”, realça Hugo Conceição.
A equipa está neste momento a estudar métodos que permitam a interação entre condutores e peões, podendo passar pela introdução de uma nova sinalética no interior dos veículos ou por manter a infra-estrutura atual, dotando-a de capacidades de comunicação com os veículos.
Reduzir sinistralidade
Durante o ano de 2013 vão ser produzidas novas experiências de campo com base nos resultados de um projeto anterior, o Drive-In (projeto divulgado pelo Boas Notícias), que consistiu na instalação, em 450 táxis do Porto, de equipamentos que permitem testar, em ambiente real, diversas aplicações que, tal como a “Virtual Traffic Lights”, assentam em comunicações veículos-a-veículo.
Além de poupar tempo aos condutores, esta inovação pretende, também, reduzir a taxa de sinistralidade. “A instalação de um semáforo obedece a uma série de critérios como visibilidade e volume de trânsito. Numa intersecção no meio rural, onde passam poucos veículos, dificilmente será instalado um semáforo. Esta falta de controlo leva, por vezes, a acidentes muito graves”, conclui o investigador.
Clique AQUI para consultar as primeiras conclusões do estudo (em inglês).