Depois de quase seis décadas sem quaisquer progressos em termos de tratamentos disponíveis para a esquizofrenia, uma descoberta genética recente feita por investigadores internacionais pode vir a revolucionar as terapias atuais.
Depois de quase seis décadas sem quaisquer progressos em termos de tratamentos disponíveis para a esquizofrenia, uma descoberta recente ajudou a identificar 100 indicadores presentes no genoma humano e associados ao risco de desenvolver a doença, o que poderá revolucionar as terapias atuais.
Com a colaboração de uma equipa de cientistas de todo o mundo, um grupo de especialistas do King's College London, em Inglaterra, analisou mais de 80.000 amostras genéticas, assinando, assim, o maior estudo já realizado a associar os genes às patologias psiquiátricas.
Os investigadores focaram-se nas possíveis causas genéticas da esquizofrenia devido ao facto de se tratar de uma doença hereditária, tendo confirmado teorias anteriores e ampliado o conhecimento existente em relação à biologia deste distúrbio.
A investigação, cujos resultados foram publicados esta terça-feira na revista científica Nature, aponta, com efeito, para a existência de mecanismos biológicos subjacentes à doença e tem potencial para conduzir os cientistas em direção a novas e mais eficazes abordagens terapêuticas.
Investigação é ponto de partida para novos tratamentos
De acordo com um comunicado divulgado pela instituição de ensino superior britânica, as 80.000 amostras genéticas de indivíduos com esquizofrenia e indivíduos saudáveis permitiram a deteção de 108 localizações específicas no genoma humano associadas ao risco de esquizofrenia, 83 das quais ainda não tinham sido ligadas à doença.
Em causa estão genes que se expressam nos tecidos cerebrais, em particular genes relacionados com as funções neuronais e sinápticas, ou seja, que controlam tanto funções essenciais para a aprendizagem e a memória como outras que tornam possível a emissão de sinais entre as células do cérebro.
Além disso, a equipa encontrou um pequeno número de genes associado à esquizofrenia que está ativo no sistema imunitário, um achado que vem apoiar a crença anterior de que poderia existir uma relação entre este distúrbio psicológico e os processos imunológicos.
Os cientistas descobriram também a existência de uma ligação entre a doença e uma região do genoma onde se “esconde” o DRD2, um recetor de dopamina que é, ao mesmo tempo, uma proteína e que é alvo de todos os fármacos aprovados até hoje para tratar a esquizofrenia, já que as suas mutações estão associadas ao aparecimento da patologia.
“O facto de termos conseguido detetar fatores de risco genéticos a uma escala tão ampla prova que a esquizofrenia pode ser combatida através das abordagens que já transformaram a nossa compreensão de outras doenças”, afirma Michael O'Donovan, principal autor do estudo publicado na Nature e investigador da Cardiff University School of Medicine, em comunicado.
Segundo O'Donovan, “a riqueza destas novas descobertas tem o potencial de servir como ponto de partida para o desenvolvimento de novos tratamentos para a esquizofrenia, um processo que estagnou durante 60 anos”.
Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo (em inglês).