Um grupo de astronómos do Observatório Europeu do Sul (ESO), que Portugal integra, acaba de anunciar a descoberta de uma estrutura em espiral "totalmente inesperada" em torno de uma velha estrela, a R Sculptoris
Um grupo de astronómos do Observatório Europeu do Sul (ESO), que Portugal integra, acaba de anunciar a descoberta de uma estrutura em espiral “totalmente inesperada” em torno de uma velha estrela, a R Sculptoris. O trabalho é um dos primeiros resultados científicos do telescópio ALMA e vai ser publicado esta semana na revista Nature.
De acordo com comunicado do ESO, esta é a primeira vez que uma tal estrutura, juntamente com uma concha esférica exterior, é encontrada em torno de uma estrela gigante vermelha. Além disso, é também a primeira vez que os astrónomos conseguem obter informação completa a três dimensões de uma espiral do género, o que foi possível graças à elevada tecnologia do Atacama Large Millimeter/Submillimiter Array (ALMA), o mais poderoso telescópio deste tipo do mundo.
Segundo os investigadores, a descoberta, que impressionou a equipa, significa que, provavelmente, há uma “estrela companheira escondida” a orbitar a R Sculptoris, mas que nunca foi vista. Outro elemento surpreendente foi a ejeção de material feita pela gigante vermelha, muito superior à esperada.
Este elemento é particularmente importante porque a ejeção de grandes quantidades de matéria pelas gigantes vermelhas é um dos fatores que mais contribui para a poeira e gás que constituem a matéria-prima da formação de futuras gerações de estrelas, sistemas planetários e, consequentemente, vida.
Descoberta vai ajudar a perceber o futuro do nosso Sol
“Já tínhamos visto anteriormente conchas em torno de estrelas deste tipo, mas esta é a primeira vez que vemos uma espiral de matéria a sair da estrela, juntamente com a concha circundante,” afirma o autor principal do artigo científico que descreve os resultados, Matthias Maercker.
Durante a fase de gigante vermelha, em que está a R Sculptoris, as estrelas sofrem, periodicamente, pulsações térmicas: períodos de curta duração em que se verificam explosões de combustão de hélio na concha que envolve o núcleo estelar, o que origina a formação de grandes conchas de poeira e gás ao seu redor, explica o ESO..
“Ao aproveitar o poder do ALMA para observar pequenos detalhes, podemos compreender muito melhor o que acontece à estrela antes, durante e depois da pulsação térmica, através do estudo da forma da concha e da estrutura em espiral,” salienta Maercker.
“Sempre esperámos que o ALMA nos desse uma nova visão do Universo, mas estar já a descobrir coisas novas inesperadas, com uma das primeiras configurações de observação, é verdadeiramente excitante”, conclui o investigador, acrescentando que, desta forma, será possível tentar entender o que acontecerá ao Sol, a nossa estrela, daqui a alguns milhares de milhões de anos.