Um dicionário construído a partir de definições de diversas palavras - desde céu ("de onde sai o dia"), a violência ("a parte má da paz") - feitas por crianças tornou-se o maior sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, na Colômbia.
Um dicionário construído a partir de definições de diversas palavras – desde céu (“de onde sai o dia”), a violência (“a parte má da paz”) – feitas por crianças tornou-se o maior sucesso da Feira Internacional do Livro de Bogotá, na Colômbia. A obra é da responsabilidade Javier Naranjo, um escritor que compilou os significados dados aos vocábulos por meninas e meninos colombianos e apaixonou os leitores.
Ana Milena Hurtado, de apenas cinco anos, acredita que a definição de Deus é “o amor com cabelo grande e poderes” e, para Alejandro Tobón, de sete anos, inveja é “atirar pedras aos amigos”. Luisa Pates, com a mesma idade, diz que o sexo “é uma pessoa que se beija em cima da outra” e, segundo Jorge Armando, também de sete anos, o tempo é “coisa que passa para lembrar”.
Estes são apenas alguns exemplos da pureza da mente infantil que tornaram o livro “Casa das Estrelas: O Universo contado pelas crianças” um dos mais procurados no evento, um sucesso ainda mais surpreendente se se considerar que a obra já tinha sido publicada pela primeira vez na Colômbia em 1999, tendo sido reeditada no início deste ano.
Em entrevista à BBC, Naranjo sublinha que as crianças têm “uma lógica diferente, outra maneira de entender o mundo, outra maneira de habitar a realidade e de nos revelar muitas coisas que esquecemos”, o que ajudará a explicar o grande furor gerado em torno deste dicionário.
As definições compiladas são quase 500 para um total de 133 palavras diferentes e foram reunidas durante um período de “oito a dez anos” enquanto o escritor trabalhava como professor em diversas escolas rurais do Estado de Antioquía, no leste da Colômbia.
Livro preserva construções gramaticais das crianças
“Nas aulas de criação literária fazíamos jogos de palavras, inventávamos histórias. E a génese do livro é um dos exercícios que fazíamos”, conta o autor, que confessa que teve a ideia depois de pedir aos alunos a definição do que era uma criança durante as celebrações do Dia da Criança.
“Lembro-me de uma definição que era: uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não bebe rum e vai dormir mais cedo. Eu adorei, pareceu-me perfeita”, recorda à BBC, revelando que foi aí que o projeto começou e que as palavras foram escolhidas tanto por si, como pelos alunos.
Para a publicação do livro, Naranjo limitou-se a corrigir a pontuação e a ortografia, garantindo que não retirou nenhuma das palavras por “questões ideológicas”.
Assim se explica que as definições mantenham as construções gramaticais particulares das crianças, bem como a sua forma inocente de explicar um mundo em que uma igreja é “onde uma pessoa vai perdoar Deus” e a solidão é “uma tristeza que dá às pessoas às vezes”.
As vendas da obra têm ajudado a financiar as atividades da biblioteca atualmente dirigida pelo escritor, que continua a incentivar as crianças a dar asas à imaginação. Além disso, o livro inspirou já obras semelhantes no México e na Venezuela.