A realidade envolve-nos na sua imensa complexidade e diversidade: diversos estímulos em simultâneo, informações sobre tudo e todos, coisas boas e más que nos acontecem e outras que nem conseguimos definir na sua qualidade de longo prazo.
A realidade envolve-nos na sua imensa complexidade e diversidade: diversos estímulos em simultâneo, informações sobre tudo e todos, coisas boas e más que nos acontecem e outras que nem conseguimos definir na sua qualidade de longo prazo. E no lugar central, estamos nós, a processar toda esta informação, selecionando umas coisas, deitando fora outras, majorando e menosprezando pedaços da realidade, de uma forma quase automática e sem bem termos noção disso. E, no entanto…
[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
No entanto, a forma como gerimos esta informação e a atenção que lhe dedicamos afeta profundamente o nosso bem-estar! Hoje, falamos-lhe de um aspeto importante: a escolha do objeto da nossa atenção.
Numa experiência, já velhinha e replicada por todo o mundo, com diversas variações, pedia-se às pessoas que contassem o número de passes de bola de uma equipa em jogo num pequeno vídeo. Neste vídeo, numa determinada altura, aparecia alguém vestido a rigor de urso e permanecia em cena 9 segundos. Poucas – muito poucas – pessoas se apercebem, no final do vídeo, de terem visto este elemento insólito… Porque estavam concentradas na contagem dos passes, prestando atenção a algo específico, que não era, seguramente, um urso, não o esperando e, por isso, não o registando.
Se a cultura popular sabe que “quem procura, encontra”, falta-nos este reverso da medalha: se não estivermos à procura, também dificilmente iremos encontrar. Focados na negritude do que nos rodeia e com que somos bombardeados diariamente, corremos o risco de ignorar o que existe de bom e agradável – o bom e o mau coexistem, e se o mau entra sem convite, à força da sua disponibilidade exterior, então teremos de nos lembrar de ginasticar a visão, para que abranja o que nos pode reforçar o bem-estar.
(Re)Pousar os sentidos
Um pequeno exercício, para usar e abusar – retire um minuto do seu dia e sintonize-se com tudo o que está a acontecer no seu exterior e que sinta como agradável: um som, uma cor, um brilho de luz, um toque, uma brisa,… Encontrado esse elemento, dirija a sua atenção total para isso; após uns segundos, repare na forma como este simples exercício de atenção o faz sentir, como o seu corpo lhe reage – talvez uma pequena descontração muscular, ou uma leveza nos ombros, ou uma respiração mais regular, um calor no coração. Apenas isso: reparar em algo de agradável e reparar na forma como lhe reage.
Ganhar forças
Neste exercício, sugerimos-lhe que reforce a confiança que tem nas suas capacidades, apenas lembrando-se das suas experiências e sustendo a sua atenção nos seus aspetos mais fortes. Três vezes por dia, talvez coincidindo com as refeições principais, para poder estabelecer uma rotina simples e ir cuidando de si sem esforço, pense numa coisa que fez, nesse dia (ou no seu passado, à falta de melhor), que o faça sentir-se orgulhoso de si e confiante numa qualquer competência sua. Não está à procura de nenhum ato espetacular de heroísmo. Basta que tenha sido um pequeno “algo” que lhe tenha corrido bem – ter completado uma tarefa dentro do prazo ou de acordo com o que tinha esperado, uma conversa que tenha fluido, um problema que tenha resolvido, um sorriso que sentiu que fez a diferença. Depois de procurar nas últimas hora, um momento em que “tenha estado bem”, dirija toda a sua atenção para o filme interno do que aconteceu e dê a si próprio a oportunidade de se sentir bem consigo.
Lembre-se que nenhum de nós controla aquilo com que a vida nos decide brindar, mas controlamos aquilo a que damos atenção. E esta escolha é fulcral: dar atenção apenas ao negativo, enche-nos de mal-estar – preocupação, ansiedade, stress, tristeza, angústia, insegurança… Por isso, e nem que seja apenas por hoje, escolha compensar a realidade dirigindo a sua atenção para o que há de bom à sua volta e o que há de sólido e confiável em si.
Fique bem!
[Madalena Lobo é Diretora Geral da Oficina de Psicologia. Para saber mais sobre este projeto visite www.oficinadepsicologia.com ou http://www.facebook.com/oficinadepsicologia]