Lisboa e Paris vão fundir-se num projeto cultural que está a decorrer, em simultâneo, nas duas cidades. Uma antropóloga francesa e uma fotógrafa portuguesa estão a retratar a vida na rua do Benformoso, no Intendente, e a vida da rua Myrha, no bairro
Lisboa e Paris vão fundir-se num projeto cultural que está a decorrer, em simultâneo, nas duas cidades. Uma antropóloga francesa e uma fotógrafa portuguesa estão a retratar a vida na rua do Benformoso, no Intendente, e a vida da rua Myrha, no bairro Goutte d'Or. O resultado final deste projeto será exibido publicamente, já no mês de Julho.
por Patrícia Maia
Hélène Veiga Gomes nasceu em França mas as suas raízes mantiveram-na, desde menina, próxima de Portugal. Com uma avó lusa e um avô de Cabo Verde, a jovem antropóloga vinha muitas vezes a Portugal passar férias. Há quatro anos, decidiu mudar-se de malas e bagagens para o nosso país, onde está a fazer uma tese de doutoramento sobre a zona do Intendente.
No seu percurso por Lisboa, o caminho de Hélène cruzou-se com a da fotógrafa
Pauliana Pimentel. Juntas decidiram avançar para um projeto artístico, apoiado pela Direção Geral das Artes (dgArtes), que consiste em registar, em vídeo e em fotografia, o dia-a-dia dos moradores destas duas ruas.
© Pauliana Pimentel
E porquê fazer a ponte entre a rua do Benformoso e a rua da Myrha? “Porque são as duas semelhantes, com corredores estreitos, onde há pouca separação entre o privado e o público, o que promove um forte convívio entre os vizinhos”, explica Hélène. Por outro lado, acrescenta, “ambas as ruas estão integradas em bairros que estão a passar por processos de recuperação urbana”.
Outra característica comum às duas ruas é o facto de existirem “muitos vizinhos diferentes”. Na rua do Benformoso, por exemplo, “há bengalis, alunos de Erasmus, indianos, portugueses, chineses, turistas de passagem… Há também pessoas que vivem cá há muitos anos e outros que são moradores recentes, com um nível económico mais elevado”, acrescenta.
Como antropóloga, Hélène tem um interesse especial pelo registo, em vídeo, das rotinas diárias das pessoas, dos espaços urbanos. Hélène foi, aliás, uma das curadoras da Festa de Antropologia, Cinema e Arte (FACA), que decorreu este mês em vários espaços de Lisboa.
© Pauliana Pimentel
O objetivo do projeto Entre Nós/Entre Nous é “retratar as pessoas destas duas ruas, nos seus gestos do quotidiano, na sua dimensão mais prosaica. A cozinhar, a fumar, a brincar com as crianças, a beber um copo. No fundo, revelar a relação entre as pessoas e o espaço”.
Projeto artístico final estreia em Julho no Intendente
Hélène e Pauliana estão a trabalhar nos dois países. Em Lisboa estão a fazer uma residência artística no
Largo Residências, no Intendente. Quando se deslocam a Paris, também habitam uma casa em plena rua Myrha. “É importante estarmos junto das pessoas, integrar o bairro, é como estar à janela e ver a vida no seu dia-a-dia”, diz Hélène.
As duas amigas começaram a registar imagens pouco depois de se conhecerem, em 2011, mas o projeto Entre Nós começou oficialmente no início de 2013, quando se materializou o apoio da dgArtes.
© Fotograma de Hélène Veiga Gomes
Em breve, os vídeos de Hélène e as fotografias de Pauliana darão origem a um objeto artístico comum, de vídeo/instalação, que “propõe um percurso imaginário onde as realidades das duas ruas se confundem”.
Em Junho, o projeto Entre Nós/Entre Nous será exibido na rua Myrha e, em Julho, vai estar em exibição em vários locais da rua do Benformoso. Uma viagem entre dois pontos de Lisboa e Paris feita de imagens, olhares e pessoas.
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