As espinhas de bacalhau podem ser utilizadas na produção de implantes ósseos e próteses dentárias. A conclusão é de um projeto de investigação português levado a cabo pela Escola Superior de Biotecnologia da Católica Porto.
As espinhas de bacalhau podem ser utilizadas na produção de implantes ósseos e próteses dentárias. A conclusão é de um projeto de investigação português levado a cabo pela Escola Superior de Biotecnologia da Católica Porto, que demonstrou ser possível extrair compostos à base de hidroxiapatite – principal componente dos ossos humanos e de animais – a partir deste subproduto.
por Catarina Ferreira
Os resultados da investigação são particularmente importantes considerando que, na indústria de processamento do bacalhau, de grande importância para Portugal, se geram quantidades muito elevadas de resíduos (que podem atingir valores na ordem dos 40%) com impactos ambientais significativos. A espinha é um dos exemplos.
“O que desenvolvemos foi um processo que permite extrair deste resíduo um produto com elevado valor acrescentado e com aplicações comerciais diversas”, revela Paula Castro, investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da Católica Porto e uma das coordenadoras deste projeto, em entrevista ao Boas Notícias.
“A conversão das espinhas em hidroxiapatite, um fosfato de cálcio, é possível através de um processo simples de calcinação, em fornos, a temperaturas elevadas (entre 600º e 1250º C), resultando na obtenção de um material com elevados níveis de pureza e cristalinidade”, explica a especialista.
Este método permite eliminar a matéria orgânica presente nas espinhas e a hidroxiapatite, que compõe os ossos em cerca de 60% a 70%, pode então ser utilizada como biomaterial “no fabrico de próteses ósseas e dentárias, em combinação com outros materiais”, esclarece.
Além disso, o tratamento das espinhas com diferentes soluções antes do processo de calcinação possibilita a obtenção de materiais ligeiramente modificados dirigidos a aplicações específicas. “Este é um dos aspetos inovadores da aplicação. Por exemplo, se introduzirmos o fluoreto temos um material mais apropriado para próteses dentárias”, ilustra Paula Castro ao Boas Notícias.
Hidroxiapatite também tem aplicações ambientais
A aplicação da hidroxiapatite não se esgota, porém, no domínio da saúde. De acordo com a investigadora, esta substância tem “também diversas aplicações ambientais, nomeadamente no tratamento de águas contaminadas com metais pesados, como o chumbo, ou com poluentes orgânicos, caso dos corantes”.
Atualmente, a maior parte da hidroxiapatite que existe no mercado é de origem sintética, ao contrário da obtida pelos especialistas portugueses, de origem natural. No entender de Paula Castro, uma das principais vantagens do método é, aproveitando um subproduto da indústria alimentar, conseguir garantir “o reaproveitamento do fósforo, um elemento cuja utilização crescente coloca em causa a sua disponibilidade no futuro”.
Até ao momento, a equipa multidisciplinar que orientou esteve apenas a trabalhar em laboratório mas já entrou em fase de testes em maior escala “para garantir a aplicabilidade do processo à escala industrial”.
O processo, que tem patente nacional depositada, está agora em fase de patente internacional. “Acreditamos que poderá ser uma forma de diversificação de produtos na fileira do pescado”, conclui a investigadora.
O estudo da Escola Superior de Biotecnologia da Católica Porto integra um projeto mais vasto, financiado pelo COMPETE, que visou a valorização de outros subprodutos do processamento com vista ao desenvolvimento de produtos com aplicação no mercado. A investigação foi desenvolvida em parceria com a empresa Pascoal & Filhos S.A., especialista na indústria da pesca e transformação do pescado, e contou ainda com o apoio de várias outras entidades.
[Notícia sugerida por Raquel Baêta e David Ferreira]